Greve preventiva

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No ano passado foram oito, neste ano serão pelo menos onze dias de greve do metro de Lisboa - com perdas para a empresa que excedem meio milhão de euros só em 2015. A razão das próximas paralisações, marcadas para as horas de ponta de quarta, quinta e sexta-feira da próxima semana, é revelada com absoluta clareza: contestar "um quadro político de provocação clara" aos maquinistas. O que é extraordinário é que o alvo do protesto dos trabalhadores é o governo que deixou de o ser. Não é contra as políticas ou a gestão de António Costa - concorde-se ou discorde-se dos seus planos para Portugal, é primeiro-ministro há menos de duas semanas! - que se param as máquinas e se deixam largas dezenas de milhares de utentes em terra. É contra as ações levadas a cabo pelo anterior governo. O que os trabalhadores do Metropolitano se preparam para fazer é assim uma espécie de greve preventiva, em que se reclama por antecipação e se ameaça fazer pior se as suas exigências não merecerem atenção e ação. São os próprios sindicatos que o dizem: "Há uma decisão de realizar um número mais alargado de greves" caso o governo não responda positivamente a questões como a alteração dos regimes de férias e dos horários dos trabalhadores. E nem o compromisso de reverter o processo de concessão da gestão do metro a privados nem a promessa de devolver os cortes feitos nas suas pensões os faz recuar. Para sequer o ponderarem, os sindicatos reclamam um sinal de António Costa, uma indicação inequívoca de que o novo governo irá encontrar um caminho para melhorar as condições de trabalho dos funcionários. Sem isso - e nestas contas não entram os cálculos das pensões nem as ameaças de uma gestão privada, que já estão a ser resolvidas - fica já a promessa de três manhãs sem metro ainda neste mês e muitas mais no ano que aí vem. Talvez seja desta que alguns milhares de utentes descubram uma melhor aplicação para o dinheiro do passe.

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