Com o dedo do meio esticado

Publicado a
Atualizado a

A foto da capa revela uma opção editorial. O politicamente correto não serve para tratar de assuntos que nenhuma sociedade deveria tolerar. Devemos a Hollywood esta discussão que se faz à escala global. De lá choveram denúncias, algumas com décadas de atraso, outras de dias recentes, sobre assédio sexual. As leis proibindo que qualquer pessoa seja importunada sexualmente existem nos Estados Unidos e em Portugal, mas a coragem para fazer todas estas denúncias precisa muitas vezes de que uma figura pública dê o primeiro passo e precisa igualmente de que aconteçam movimentos como aquele que dá a volta ao mundo com uma hashtag no Twitter a dizer Me Too (eu também). Nas redes sociais não há apenas porcaria, há igualmente uma capacidade única de tornar globalmente conhecida uma indignação que estava condenada a morrer no segredo de cada vítima.

No DN publicamos hoje uma reportagem da jornalista Fernanda Câncio e um trabalho da jornalista Rute Coelho sobre o estudo que fez a socióloga Isabel Ventura e o testemunho da juíza Clara Sottomayor. Dá para ficar com a certeza de que a lei teve uma grande evolução, nós é que ficámos lá atrás, a começar em muitos juízes das diferentes instâncias. A foto daquela mulher com o dedo do meio esticado, denunciando que também ela foi vítima, é bastante aceitável se tivermos em conta o quanto se pode sentir ofendida uma pessoa que depois de ser importunada sexualmente é tratada com desconfiança pelas autoridades a quem apresenta queixa ou pelos magistrados que têm de julgar o caso.

Não! Não podemos pensar que é coisa pequena ser importunado sexualmente. Não é aceitável e também não é apenas pela lei que tudo se vai resolver. Tem de haver uma lei que pune quem não respeita o outro, mas o que precisamos de conquistar é a consciência coletiva de que o assédio deixa marcas nas vítimas. Eu tenho mulher e tenho filhas pequenas, podiam ser filhos, não as quero a crescer julgando que é socialmente aceitável que alguém as importune sexualmente, seja um piropo seja assédio de qualquer tipo.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt