Portugal foi eleito pelo The Economist como “Economia do Ano 2025”. Fica bem. Porém, o prémio resulta mais de uma boa fotografia conjuntural do que de qualquer filme estrutural. E muito menos consistente.Crescemos, é verdade. Mas crescemos sem reformas de fundo. Aliás, sem reformas de nada. Sem mudar o mercado de trabalho, sem uma estratégia séria para o talento, sem resolver o bloqueio da habitação e sem ganhos sustentados de produtividade. Quando o ponto de partida é fraco, qualquer melhoria parece extraordinária. Não é.O crescimento recente explica-se por fatores conjunturais: turismo em máximos, fundos europeus, inflação como balão de oxigénio para receitas fiscais, juros elevados a favorecer uma disciplina orçamental tardia e um contexto internacional onde muitos países falharam. Em comparação, Portugal destacou-se. Mas destacar-se porque outros ficam menos bem na fotografia não é liderança; é circunstância. Não é estrutura. Nem consistência.No trabalho, mantemos salários baixos, progressões curtas, precariedade elevada e uma cultura que penaliza risco e mérito. Falamos de talento, mas empurramo-lo para fora com fiscalidade pesada, poucas perspetivas e custo de vida desajustado. Importamos mão de obra, verdade, mas sem qualquer estratégia de qualificação, integração e aumento de produtividade. Isto não é visão económica. É circunstância.A habitação é o espelho do falhanço estrutural. Preços incomportáveis, oferta escassa, décadas sem construção relevante, políticas erráticas. Um país que não consegue alojar a sua classe média, os jovens qualificados e os trabalhadores essenciais não é uma economia vencedora. Não pode ser.Na produtividade, o problema é ainda mais claro. Crescemos mais por horas trabalhadas do que por valor criado. A economia continua excessivamente assente em setores de baixo, leia-se baixíssimo, valor acrescentado, poucas empresas escaláveis e com dimensão relevante, fraca ligação entre conhecimento, inovação e mercado global.O título do The Economist devia servir de aviso, não de celebração. O maior risco disto é confundirmos melhoria conjuntural com sucesso estrutural. Baixando a exigência.Portugal não precisa de prémios. Precisa de reformas. Precisa de ambição. Precisa de liderança que pense para além do ciclo político e de uma sociedade que não sesatisfaça com elogios externos quando os problemas de fundo permanecem os mesmos de sempre.Devemos exigir mais? Claro que sim. E temos de trabalhar muito melhor.