E Madonna a rir-se deles todos

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O advogado de Jair Bolsonaro, o maquilhador de Michelle Bolsonaro, o governador bolsonarista do Rio de Janeiro e um senador bolsonarista são os últimos bolsonaristas acusados de cometer um crime.

Mas o que é que eles fizeram? Desviaram, como aquela organização de bolsonaristas liderada pelo braço direito do ex-presidente, joias oferecidas ao Estado brasileiro para o próprio bolso?

Enviaram, como aquela dupla de pastores evangélicos bolsonaristas que mandava no então ministro da Educação, verbas do ministério apenas para as prefeituras que, em troca, lhes pagassem com pepitas de ouro?

Prepararam, como aquela gangue de sociopatas bolsonaristas, uma bomba para fazer explodir o Aeroporto de Brasília, matar centenas de inocentes, permitir a Bolsonaro declarar Estado de Sítio e, dessa forma, impedir a posse de Lula?

Tentaram, como aqueles funcionários públicos bolsonaristas manobrados por um parlamentar bolsonarista, faturar um dólar por dose de vacina vendida durante a pandemia?

Andaram a correr, como aquela deputada bolsonarista, de pistola em punho por uma rua movimentada de São Paulo a ameaçar um eleitor de Lula?

Conspiraram, como aqueles generais bolsonaristas, para cometer um Golpe de Estado, depois de pôr em causa, sem provas, a lisura da eleição presidencial?

Não, o crime cometido pelo advogado de Jair Bolsonaro, pelo maquilhador de Michelle Bolsonaro, pelo governador bolsonarista do Rio de Janeiro e por um senador bolsonarista não está na mira da Justiça dos homens. O crime cometido pelo quarteto está na mira de uma justiça muito mais implacável: a justiça dos próprios bolsonaristas.

O advogado, o maquilhador, o governador e o senador - segure-se na cadeira que lá vem bomba - foram a um concerto de Madonna em Copacabana.

Estiveram, portanto, num espetáculo onde houve - segure-se na cadeira, outra vez, e desta vez faça o sinal da cruz - beijos gay, abraços trans e simulações de sexo.

Um espetáculo, como gritou Nikolas Ferreira, um deputado bolsonarista juvenil, “de satanistas”.

Sóstenes Cavalcanti, o deputado bolsonarista marionete do bispo bolsonarista evangélico Silas Malafaia, apresentou até uma moção de repúdio contra “eventos que promovem a erotização explícita e a pornografia”.

E o rebanho de cidadãos de bem baliu, em coro, nas redes sociais contra os artistas de esquerda chamados ao palco e os “maconheiros” e “vagabundos” e “veados” e “lulistas” que assistiram da praia ou de casa.

A performance de Nikolas, Sóstenes e gado fluía bem, repleta de likes, shares, views e retweets, até surgirem, qual grão de areia de Copacabana na engrenagem da ignorância, as tais imagens do advogado, do maquilhador, do governador e do senador a curtirem a outra performance, a da cantora.

No ranking  da cobardia, o governador, que se apressou a jurar ao bispo que saiu do recinto mal começou a erotização do show, só perdeu para o senador, que culpou a mulher por estar naquele antro de pecado.

O maquilhador, que até aparece a sorrir animado numa das fotos, ainda deve estar a ensaiar o pedido de clemência à pentecostal Michelle.

E o advogado, filmado a lançar um bracinho ao ar ao ritmo de Every Little Thing That You Say Or Do, a redigir as alegações finais em causa própria ao militar Jair.

E Madonna? Saiu do Rio enrolada numa bandeira da Brasil, o símbolo que o bolsonarismo roubou dos brasileiros, a rir-se deles todos.

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