Tão certo como a chuva no inverno, temos os fogos no tempo quente, com as horas de angústia vividas por populações rodeadas por chamas que mudam de direção ao sabor do vento. Também temos como certo as inúmeras horas de análises ao que as imagens mostram com bombeiros exaustos por combater frentes de fogo durante horas e com populações a queixarem-se de que não são apoiadas pelos homens e mulheres que, muitos de forma voluntária, estão horas a fio a colocar a sua vida em perigo.Assistimos, igualmente, às denúncias de falta de meios, sejam eles aéreos, humanos ou de veículos. Isto numa altura em que de 1 de janeiro a 15 de julho arderam em Portugal cerca de dez mil hectares - que comparam com os 3.462 no período homólogo.O que não assistimos com tanta frequência são discussões e análises às causas mais profundas que podem ajudar a explicar a razão de termos estes incêndios e vários de grande dimensão. E a tentar encontrar forma de os reduzir.Por isso é que as declarações do arquiteto paisagístico Henrique Pereira dos Santos na manhã desta quarta-feira (30 de julho) na CNN-Portugal deviam ser escutadas - ou a ser entendidas, pois o próprio disse que faz parte de um grupo de pessoas que todos os anos diz o mesmo sobre o assunto.E o que disse? Que estes fenómenos estão muito estudados; que o problema dos fogos é uma questão de economia e de gestão do território - traduzindo: muito território abandonado, pois as populações procuram o litoral -; que 1% das ignições resultam em 90% da área ardida; que não há uma política de gestão do “combustível”... Por fim disse estranhar a falta de confrontação do ministro da Agricultura [atualmente José Manuel Fernandes] sobre estas questões.O arquiteto ainda concordou com a ministra da Administração Interna, Maria Lúcia Amaral, no ponto em que a governante disse publicamente que os meios aéreos, ou a falta de alguns, não eram o maior problema nesta questão.Perante estas declarações talvez seja bom recordarmos a necessidade de limpeza dos terrenos - e não só nos 50 metros junto às habitações -, tanto no que diz respeito aos que estão a cargo do Estado como os na posse de privados. De acordo com o site florestas.pt 84% da floresta nacional pertence a privados.Voltando às declarações de Henrique Pereira dos Santos, este defendeu que a organização dos bombeiros devia ser alterada, caminhando para a profissionalização dos mesmos.Ou seja, não se limitou a falar de incendiários, meios aéreos e humanos, mas apontou dois temas que talvez ajudassem a reduzir este flagelo anual: reorganização do território e dos corpos de bombeiros.Se é verdade que há muitos anos se fala destes temas, talvez comece a ser altura de os levar a sério. Editor executivo do Diário de Notícias