E depois do Apagão?
O que fazer depois de um dia tão insólito como o que Portugal viveu na segunda-feira? É preciso perceber o que correu bem, o que correu mal e como preparar o país para futuros eventos disruptivos, sejam eles apagões, sismos, eventos climáticos extremos, atos terroristas ou quaisquer outros. E, para isso, rapidamente e com a memória ainda fresca, o governo tem de enviar um questionário a todos os cantos do país para termos um diagnóstico pormenorizado, que nos permita corrigir o que não correu bem e replicar os bons exemplos.
Chegam-nos relatos de escolas onde as crianças não puderam almoçar porque o sistema de pagamento estava em baixo ou de centros de saúde que tiveram de transportar as suas vacinas e medicamentos para os frigoríficos dos hospitais ou supermercados mais próximos porque o frigorífico do centro de saúde não tinha energia de reserva. Por todo o país, os semáforos deixaram de funcionar, pondo em risco automobilistas e peões. Nalguns locais os hipermercados continuaram abertos, noutros foi o comércio local que acudiu às populações. O SMS da Proteção Civil chegou tarde - quando chegou. As notícias falsas, os boatos e os rumores proliferaram nos grupos de whatsapp e redes sociais. A informação fidedigna custava a chegar, sobretudo para quem não conseguia ter acesso a um rádio.
Estes e outros relatos devem ser reunidos, sistematizados, confirmados e analisados rapidamente para termos uma visão global do que o país viveu nesta segunda-feira e para perceber o que podemos resolver rapidamente. Isto porque há muito a resolver no médio-longo prazo - como continuar a transição energética, garantir que a produção e distribuição de energia podem funcionar de forma descentralizada (e autónoma em caso de emergência), investir nas comunidades de energia renovável e aumentar as interligações internacionais - mas há também muito que podemos fazer já para prevenir e precaver eventos futuros. E muito desse muito são coisas simples e que não exigem grande orçamento - garantir que os frigoríficos dos centros de saúde têm reserva de energia, garantir que os principais responsáveis dos órgãos de soberania do país e das infraestruturas críticas têm já telemóveis com ligação por satélite, assinar finalmente o sistema de difusão celular que permite enviar SMS rapidamente para todos os telemóveis portugueses e estrangeiros numa área específica, estabelecer que nenhuma criança deve ficar sem refeição aquando de uma anomalia num sistema.
O governo anunciou uma Comissão Técnica Independente para analisar a capacidade de resposta do sistema elétrico nacional, da proteção civil e comunicações e dos sistemas críticos. Mas chuta o início dos trabalhos desta comissão lá para meados de junho, depois do novo parlamento tomar posse. Não! O tempo de análise é agora, é já. Esta Comissão Técnica deveria já estar a trabalhar e a desenhar este questionário que tem de ser enviado a todo o país para verdadeiramente aprendermos com o dia de segunda-feira.
Adiar esta análise só mostra que o governo, mais uma vez, não aprendeu nada.
Líder parlamentar do Livre