É agora ou nunca, António Costa

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António Costa não perde uma eleição desde 2015, nas legislativas em que foi menos votado do que Passos Coelho, tendo-se feito primeiro-ministro logo a seguir. Ontem, tornou-se o secretário-geral com mais vitórias eleitorais consecutivas na história do seu partido - autárquicas de 2017, europeias e legislativas de 2019, autárquicas de 2021 e legislativas de 2022 -, ganhando as eleições intercalares que habitualmente prejudicam os governos, umas legislativas em tempo regulamentar e em crescimento e, agora, umas segundas legislativas mas antecipadas e em plena crise.

Más campanhas e bons resultados é, está visto, a sina do socialista.

Rui Rio, pelo contrário, não venceu uma única eleição - uma, senhoras e senhores - desde que é presidente do PSD. Para quem aconselhou Costa a "perder com dignidade", seria prudente seguir a recomendação e permanecer no PSD até os sociais-democratas encontrarem alternativa e ocasião. Os seus bodes expiatórios do costume - a oposição interna, o fantasma do passismo, as sondagens - simplesmente não existiram nestas eleições. Rio, a queixar-se, só tem razões de queixa de si próprio. A estratégia, o tom e a incoerência foram obra sua. E o seu "Portugal ao centro" saiu à rua massivamente para ir votar. Mas em Costa.

Regressando ao PS, a euforia da maioria absoluta não deve disfarçar ou fazer menosprezar o enorme desafio que esta traz aos socialistas e ao seu líder. António Costa é primeiro-ministro há mais de seis anos, mas nunca governou sem a necessidade de negociação com o Bloco de Esquerda ou com o Partido Comunista. Dito de outro modo: apesar de estar prestes a ultrapassar Guterres e Sócrates em longevidade na governação, nunca gozou da sua liberdade - e responsabilidade - no que a governar diz respeito.

Esta meia dúzia de anos de PS foi particularmente órfã de reformismo - não só pelas amarras parlamentares à esquerda, como pela ânsia de estabilidade após a troika -, mas os próximos quatro anos não poderão ser assim. Se há algo que ficou patente e quase consensual entre os partidos durante a campanha eleitoral foi a urgência em conseguir mais crescimento económico, melhores serviços públicos e menos asfixia fiscal.

A partir de amanhã, António Costa já não tem desculpas para não atacar esses problemas de frente. Uma maioria absoluta na Assembleia da República, o PRR e um quadro plurianual a caminho, uma oposição forçada à cooperação no futuro próximo e uma enorme esperança popular de que disso seja capaz.

O António Costa fazedor, dialogante e europeísta terá de materializar-se. Caso contrário, a maioria absoluta servirá de quê? Para ele - e para o papel de relevância histórica que qualquer político ambiciona - é agora ou nunca. Para bem do país, que seja agora.

Depois de colocar a cabeça no cepo pela esquerda ("Se depender do PSD, o meu governo acaba") e de ser traído por esta, o país perdoou-lhe a ele, não perdoando a esquerda. Da noite de ontem sai a obrigação de um governo melhor do que o anterior. E a certeza de uma direita mais aguerrida do que a dos últimos quatro anos.

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