Esta semana foram aprovados dois Orçamentos para o ano de 2025, o Orçamento da União Europeia e o Orçamento do Estado português..Descontadas as diferenças de natureza e objetivos dos orçamentos nacionais e comunitários, as opções feitas andam a par e passo umas das outras..O Orçamento da UE deve ser um instrumento de compensação dos impactos assimétricos das suas políticas. Os seus fundos devem compensar os países que sofrem consequências ou impactos negativos, cabendo aos países que delas beneficiam a obrigação de suportar os encargos com essas compensações..Em vez disso, o Orçamento da UE é cada vez mais um instrumento de pressão sobre os Estados-membros para que cumpram as políticas determinadas pela UE..Algumas das opções feitas no Orçamento da UE para 2025 são bem reveladoras das orientações dessas políticas..Verbas antes destinadas à coesão económica e social, ao combate à pobreza e desigualdades, ao apoio aos setores produtivos são desviadas para o pagamento dos mais de 2 mil milhões de euros de juros da dívida contraída pela UE. Os grandes bancos europeus esfregam as mãos de contentes..Mais de 21 mil milhões de euros (mais de 10% do orçamento) são destinados à guerra, ao militarismo, à política de confrontação e ingerência, ao controlo de fronteiras..O fundo das pescas tem uma redução de mais de 120 milhões em relação a 2024 e os montantes destinados à agricultura sofrem uma redução de mais de 500 milhões de euros. Cortes que contrastam com as dificuldades destes setores e com as reivindicações de maiores apoios feitas por pequenos agricultores e pescadores..Nos apoios e privilégios orçamentais destinados aos grupos económicos e às multinacionais sobram as verbas que faltam para apoiar políticas dirigidas a problemas como a falta de habitação, as dificuldades no acesso à Saúde, à Educação, à mobilidade..O Orçamento do Estado (OE) português tem natureza e objetivos diferentes dos do Orçamento da UE. A discussão sobre o destino desses recursos orçamentais nacionais é feita em moldes distintos. No entanto, se perguntarmos pelo destino das verbas do OE agora aprovado, percebe-se com facilidade que a resposta revela a mesma orientação política relativamente a quem beneficia do orçamento e quem é deixado para trás..A comprová-lo estão duas opções flagrantes. Não havia recursos orçamentais suficientes para contratar trabalhadores que estão em falta em toda a Administração Pública, para aumentar salários, para valorizar carreiras nem para fazer um aumento das pensões que correspondesse às necessidades dos pensionistas. Mas sobrava dinheiro dos impostos cobrados às empresas e, por isso, se deu mais uma borla fiscal com a redução do IRC a 20 empresas que lucram por dia 23 milhões de euros..A semelhança nas opções de um e de outro orçamento e em quem os aprovou não é mera coincidência.