Do Triângulo Keynes/ Schumpeter/ Galbraith

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Em larga medida, a produção teórica e a “praxis” desenvolvidas na segunda metade do século XX viriam a assentar no “triângulo mágico” Keynes/Schumpeter/Galbraith.

Keynes, com a sua “Teoria Geral do Emprego, do Juro e do Dinheiro” (publicada na primeira metade do século XX, mas com efeitos a muito longo prazo), procurou explicar que nem sempre a automaticidade dos mecanismos de reequilíbrio do mercado funciona, havendo, em diversas circunstâncias, necessidade de recorrer à intervenção do Estado na Economia, o que explicaria a admissibilidade de implementação de políticas públicas de investimento contra-cíclicas, com o que tal poderia implicar de recurso ao défice orçamental e à Dívida Pública.

Keynes explicou - e bem - que a variável determinante do investimento é a expectativa de evolução da procura, tornando claros os efeitos resultantes da implementação de políticas de carácter contraccionista.

Schumpeter produziu uma ruptura teórica com a Escola Convencional ao distinguir os factores de produção em factores materiais e imateriais, incluindo nos imateriais a inovação e a criatividade (bem como, naturalmente, o progresso tecnológico).

Para o autor, os factores determinantes do crescimento, numa perspectiva de longo prazo, eram o progresso tecnológico/ inovação e a transformação da estrutura de poderes.

O pensamento schumpeteriano viria a ter muita influência na produção teórica estruturalista, uma vez que aqueles dois factores apresentavam uma significativa influência na alteração dos perfis da procura e da oferta, bem como na tipologia das combinações produtivas, levando à incorporação de mais progresso tecnológico e a alterações na sobredita estrutura de poderes.

Schumpeter achava inexorável a tendência para uma certa socialização do capitalismo, a partir das transformações na estrutura de poderes e da necessidade de irem sendo atenuadas as debilidades do capitalismo originário, através do planeamento, da regulação do mercado e dos novos mecanismos de redistribuição do rendimento.

Galbraith explicou algo que muitos economistas e políticos ainda não perceberam.

É que desenvolvimento sem “Good Governance” não faz sentido.

“Good Governance” ao nível do Estado, claro está, mas “Good Governance” também ao nível das empresas, procurando uma gestão eficaz e, por isso mesmo, responsável de recursos e estabelecendo-se uma NOVA ÉTICA.

Sem “Good Governance” na gestão Pública não é possível pôr em prática a abordagem CDF - “Comprehensive Development Framework”, nem é possível incutir na opinião Pública a ideia de respeito pela “classe política dirigente”.

Sem “Good Governance” no sector privado não é possível que os agentes económico-sociais (e, portanto, os parceiros económicos da tecnoestrutura empresarial) aceitem as regras estabelecidas pelo mercado, algo que se apresenta essencial à consolidação das estruturas existentes e, por conseguinte, à criação de um verdadeiro ambiente de concertação entre as diferentes partes em presença.

KEYNES-SCHUMPETER-GALBRAITH: um importante triângulo virtuoso.

Mas, é necessário que os responsáveis políticos compreendam as potencialidades desse triângulo virtuoso.

E que as expliquem à opinião pública.

E que concretizem as ideias que lhe estão subjacentes.

De contrário, aqueles três grandes autores terão desperdiçado muito do seu tempo de criatividade produtiva.

Nem mais, nem menos…

Economista e professor universitário. Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico

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