Não se afigura fácil compreender a relevância do lado da procura para a dinamização do investimento sem se atender à verdadeira dimensão do Síndroma Despesista..Se o presidente de uma confederação patronal for visitar um Primeiro-Ministro com tropismo neo-liberal e lhe disser que era preciso haver menos Estado e mais iniciativa privada, tornando-se necessário reduzir o número de funcionários públicos e o número de empresas públicas, explicando, simultaneamente, que tal contribuiria para um maior nível de confiança do sector privado e, por conseguinte, para um acréscimo do investimento na economia, o líder governamental poderia responder afirmativamente, deixando o referido presidente da confederação esfuziante..Mas, o mesmo presidente, nesse mesmo dia, se a sua mulher lhe dissesse, à hora do jantar, que estava a pensar em investir em lojas de vestuário num conhecido centro comercial, argumentaria que era melhor esperar pelas reformas que o governo iria empreender, só depois se vendo se as consequências das mesmas passariam ou não por alguns efeitos recessivos na economia ou se, pelo contrário, haveria a prazo uma evolução favorável induzida pelo acréscimo do investimento privado. Em boa verdade, tudo dependeria das expectativas de evolução da procura..Se houver um período de acréscimo do desemprego e de redução do consumo, então valerá a pena esperar um pouco mais para se investir..Por outras palavras, não existe, necessariamente, automaticidade na substituição do investimento público pelo privado. .A ideia de que se afigura possível, por outro lado, assegurar que o acréscimo do investimento privado poderia, automaticamente e de forma sensível, reagir positivamente à nova conjuntura a partir do que se convencionou designar de “choque fiscal” permitiria, eventualmente, ajudar à resolução do problema atinente a um ajustamento estrutural na economia..Deixando, de forma discutível, de lado a questão das expectativas de evolução da procura, seria possível argumentar-se, na linha do pensamento dos “supply siders”, com a conhecida curva de Laffer, dizendo-se que a redução dos impostos conduziria ao aumento de rendimento disponível – quiçá sem uma redução substancial das receitas fiscais – e, por conseguinte, ao incremento da poupança, o que, por sua vez, levaria ao aumento do investimento, dada a igualdade “ex ante” entre poupança e investimento..Mesmo sem relembrar que Keynes pôs em causa a igualdade “ex ante” entre poupança e investimento, seria sempre útil saber-se em que ramo da curva de Laffer se encontraria a economia em causa, uma vez que se, porventura, se situasse no ramo ascendente poderia haver um impacto negativo nas receitas fiscais e, por conseguinte, nas contas públicas..E tal poderia pôr em causa toda uma política de rigor nas Finanças Públicas..Do que se disse importa retirar duas lições..A primeira consiste no facto de nem sempre haver, num curto espaço de tempo, substituibilidade do investimento público pelo privado, tudo dependendo das expectativas que, entretanto, se gerarem na procura interna e externa..A segunda tem que ver com a indispensabilidade de só se pensar num “choque fiscal” depois de se ter alguma ideia concreta sobre o ramo da curva de Laffer em que está a economia em questão..Há decisões que não podem ser tomadas, apenas, por intuição ou – o que é pior – por mero fundamentalismo ideológico..Nem mais, nem menos…