Do “Sahelistão ao Estado Soberano da Ordem Bektashi” e a quimera do Califado!
Sahelistão trata-se de termo cunhado pelo “francês-faz-tudo”, Samuel Laurent, em 2013, quando publica Sahelistan: De la Libye au coeur du nouveau jihad, ficando implícito no termo o caos afegão-paquistanês da pulverização de grupos e frentes de batalha, em nome de Deus e contra tudo quanto era cafre!
Ora essa desordem dá sinais do seu regresso ao Sahel Ocidental, invisível para nós, já que diluído no meio da Ucrânia e do Médio Oriente. A saber, na semana passada, o JNIM, o Grupo de Apoio ao Islão e aos Muçulmanos, afiliado ao AQMI, a Al-Qaeda do Magrebe Islâmico, efectuou um espectacular ataque à capital do Mali, Bamako, do qual resultaram 70 mortos e 200 feridos! Há mais de uma década que a capital não era atacada.
Há um mês foi no Burquina Faso, durante uma razia de fim-de-semana numa aldeia do centro do país, onde 100 civis e militares foram assassinados, enquanto escavavam trincheiras para se protegerem! Em resumo, a situação securitária no Mali, Burquina e Níger, os três golpistas governados agora por juntas militares assessoradas pelo Corpo Africano russo, piorou significativamente nos últimos quatro anos. Abre-se assim um vazio entre governo e governados, que pode muito bem ser ocupado pela “nuvem AQMI/Estado Islâmico”, que sempre pairou sobre esta “superfície lunar” que o Azawad tuaregue parece ser. O corrente “caldo Israel-Palestina” e respectiva evolução, definirá “quanta gasolina poderá este Sahelistão consumir a cada dia”! O Califa para o ser precisa de um Califado e o crescente vazio neste inóspito mediático do “onde não há imagem, não há notícia”, apresenta-se como candidato à territorialização dessa memória islâmica, o Califado, enquanto “Vaticano hierarquizador”!
Quanto ao Estado Soberano da Ordem Bektashi, trata-se de uma proposta albanesa para a constituição de um micro-Estado-Islâmico, com 10 hectares, dentro da capital Tirana. A Ordem Bektashi trata-se de uma Confraria Sufi, o que ameniza o choque inicial. Porquê? Porque os sufis, logo nos dias seguintes ao 11 de Setembro, foram identificados como os muçulmanos cool, os sincréticos que integram elementos culturais no religioso, cantam e dançam e por isso devem ser “os muçulmanos acarinhados”, segundo os relatórios de segurança da altura, quando os serviços começaram a catalogar tendências e a medir barbas!
A proposta foi apresentada esta semana na Assembleia Geral das Nações Unidas, pelo Primeiro-Ministro Edi Rama, pelo que não se trata de desinformação ou mal-entendido. A Albânia, que mergulhou na quimera da autarcia com Enver Hoxha (1908-1985), propõe agora a quimera do “Califado Sufi”, oásis da tolerância para as minorias perseguidas, honrando a memória da Madre Teresa de Calcutá, que era de Escópia, Macedónia do Norte!
Escreve de acordo com a antiga ortografia