Do projecto de capitulação de Trump

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Igual a si próprio, Trump regressou à sua tese de partida, a saber, a capitulação completa, total e absoluta da Ucrânia em benefício da Rússia Imperial do Sr. Putin.

De facto, Trump nunca enganou os mais avisados, que só esperavam dele isso mesmo.

A Ucrânia teria que reconhecer como territórios russos a Crimeia, o Donetsk e Lubansk.

Haveria uma “zona des-militarizada”, a qual seria, “de facto”, controlada pelos russos.

A Ucrânia renunciaria, para sempre, à entrada na NATO.

Não haveria forças de observação ocidentais na Ucrânia.

As Forças Armadas ucranianas seriam substancialmente reduzidas, o que constituiria mais um atentado à soberania da Ucrânia.

Numa provocação inacreditável aos ucranianos, que jamais apoiaram com Zelensky algo que se assemelhasse a essa ideologia, a Ucrânia deveria renunciar ao nazismo, quando a potência invasora é liderada por quem foi, assumidamente, um estalinista, não se pedindo à Rússia que renuncie ao estalinismo.

E quais são as garantias dadas aos ucranianos?

Teoricamente, 100 mil milhões de dólares resultantes de activos russos congelados e 100 mil milhões de dólares provenientes da UE, que não foi ouvida sobre esta matéria. Nada proveniente dos EUA, embora se faça uma referência vaga a eventuais investimentos no futuro.

Fica-se, todavia, com a ideia de que será criado um Fundo de Investimento que seria gerido em conjunto pelos EUA e pela Rússia.

A Ucrânia receberia, ainda, garantias de segurança dos EUA, mas em condições que não são especificadas.

E, por outro lado, a Ucrânia assumia o compromisso de realizar eleições no prazo de 100 dias, depois de assinada a capitulação, que é, enfim, para se ter a certeza absoluta de que Zelensky, após capitular, não teria qualquer hipótese de ser reeleito.

Haveria, ainda, um Conselho para a Paz, liderado por Trump, que controlaria todo o processo de pacificação da Ucrânia, à semelhança do que se está a tentar implementar em Gaza, com o sucesso que é do conhecimento geral.

Isto é, Trump, que tem promovido um clima de guerra civil no seu próprio País, seria a figura cimeira do Conselho para a Paz na Ucrânia, após ter obrigado esta última a capitular face aos interesses imperialistas da Rússia.

Algo de mais ridículo seria difícil.

E não tenhamos dúvidas. Se a Ucrânia e a UE não aceitarem os termos do acordo, Trump deixará de dar qualquer tipo de apoio à Ucrânia (inclusive, se só depender dele, em termos de informações) e deixará de vender armas para a Ucrânia aos países europeus da NATO.

Mais, Trump assumirá o compromisso de evitar a entrada na NATO de novos países interessados da Europa de Leste, se é que não poderá vir a aceitar a retirada de arsenal estratégico de alguns países europeus já hoje em dia pertencentes à NATO.

Seria difícil a Putin encontrar melhor aliado na Casa Branca.

E, face a tudo isto, o Mundo Ocidental assiste a uma aproximação dos EUA à Arábia Saudita (que já celebrou acordos com a China), ao Qatar (que tem boas relações com o Irão), enfim a tudo o que representa um interesse transaccional para Trump, como se fosse algo de normal e, até mesmo, de louvável.

Jamais o Mundo Ocidental teve uma liderança tão trágica.

Jamais o Mundo Ocidental teve como líder alguém tão despido de valores e de princípios.

Mas, infelizmente, continua a haver quem se sinta honrado por um convite para jantar com alguém que não tem um “pingo” de respeito pelos “Founding Fathers” dos EUA, nem tão pouco pelos mais elementares direitos associados à Dignidade Humana.

Nem mais, nem menos…

Economista e professor universitário. Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico

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