J. K. KOURI, no seu texto Profitability and Growth in a small open economy, pretendeu estudar, uma vez determinada uma taxa de remuneração do capital, a taxa de remuneração do investimento que induziria as empresas a investir a um ritmo que manteria a economia a crescer a um ritmo não excessivamente elevado e, simultaneamente, não excessivamente baixo.O autor estabeleceu uma relação entre a tendência para o abaixamento da taxa de câmbio efectiva e o aumento do coeficiente de intensidade capitalística, à medida que o nível de actividade económica se vai expandindo.A curva que estabeleceu essa relação e a recta que nos dá a taxa de câmbio real de equilíbrio permitem-nos definir quatro regiões, a saber, uma de altos lucros e de excesso de oferta de trabalho, outra de altos lucros e de excesso de procura de trabalho, uma terceira de baixos lucros e de excesso de procura de trabalho e, finalmente, uma de baixos lucros e de excesso de oferta de trabalho.Mas, o que se apresenta interessante é que uma economia pode estar na região de baixos lucros, de excesso de procura de trabalho e de elevado coeficiente de intensidade capitalística, correspondentemente a um nível significativo de desenvolvimento económico.Isto é, uma economia pode ser relativamente desenvolvida, investir bastante em progresso tecnológico e, portanto, no Sector de Bens Transaccionáveis (SBT) – ligado às exportações – e, mesmo assim, apresentar baixos lucros e um nível de desemprego acentuado.Como assim, se o que nós aprendemos em muitos manuais é que se uma economia investe em progresso tecnológico e no SBT (ligado às exportações), então essa economia deve apresentar elevados lucros e uma baixa taxa de desemprego? O investimento no SBT pode resolver o problema do avanço tecnológico, do aumento das exportações, mas não, necessariamente, o dos lucros elevados, porque tal depende das vantagens comparativas dinâmicas obtidas no concerto internacional.Tudo depende das cadeias de produção e do funcionamento das “economias em rede”.E, por outro lado, pode não resolver o problema do desemprego, uma vez que a concentração do investimento no SBT implica a aposta em combinações predominantemente capital-intensivas que, por isso mesmo, são pouco utilizadoras de mão-de-obra, podendo haver até um certo tropismo para substituir de forma quase obsessiva o trabalho por capital, o que dificultará sempre a resolução do problema do desemprego.Haverá sempre quem pense numa sociedade terminal “perfeita”, em que a actividade económica estará “robotizada”, em que desapareça a iliteracia digital, em que todos serão privilegiados e em que não existam “marginalizados” ou “excluídos da sorte”.Mas, tal pertence ao “Reino das Utopias”.A única forma de se evitar que se caminhe para sociedades assimétricas, quer do ponto de vista do desenvolvimento económico sectorial e regional, quer do ponto de vista social, está na promoção de estratégias de crescimento a “duas velocidades”.Melhor dizendo, sendo importante investir no SBT – e, portanto, no sector de exportação –, é, também, importante canalizar recursos financeiros para o SBNT (Sector de Bens Não Transaccionáveis), ligado à economia doméstica, às infraestruturas, às pequenas e médias empresas orientadas para o mercado interno, enfim, aos sectores “intersticiais” do aparelho produtivo, absorvendo-se a mão-de-obra liberta pelo sector moderno da economia e evitando-se, por essa via, a agudização dos conflitos sociais.É preciso completar uma exogenous growth strategy com uma endogeous growth strategy e, para tal, importa apostar no planeamento estratégico da economia.Há quem pense que quem advoga uma solução destas defende um excessivo intervencionismo estatal na economia.Nada de mais incorrecto.Defende, apenas, o intervencionismo necessário.Nem mais, nem menos… Economista e professor universitárioEscreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico