Há décadas em que nada se passa e há semanas em que se passam décadas. Esta frase de Vladimir Lenine reflete bem o estado do mundo desde o dia 24 de fevereiro, quando as tropas russas invadiram a Ucrânia..A guerra transporta consigo emoções violentas. O medo, o desespero e o ódio são muitas vezes o pano de fundo. Contudo, por vezes, é precisamente o seu carácter chocante que enaltece virtudes..Uma delas é a coragem, bem demonstrada pelos ucranianos e pelo presidente Zelensky. O mundo ficou a conhecer um homem forte e leal, que quer defender a sua terra e a liberdade do seu povo. À proposta dos EUA para deixar o país respondeu: "Eu não preciso de uma boleia, preciso de munições." Seja qual for o desfecho, ficará na história..Outra é a empatia, essa capacidade de nos imaginarmos no lugar do outro. Aquilo que vemos nas ruas das cidades europeias - até em Moscovo! - é uma manifestação profunda de humanismo. Pessoas que não querem ver outras pessoas sofrer..Essa empatia sente-se nas lideranças europeias, na coligação de países democráticos que se estão a unir em defesa dos nossos valores. A primeira resposta política, demasiado tímida, foi substituída por uma maré de compromissos históricos: desde sanções pesadas ao sistema financeiro da Rússia e aos oligarcas que rodeiam Putin, até ao fornecimento de armas à Ucrânia..Sente-se também uma mudança radical na resposta humanitária. Felizmente, os refugiados desta guerra podem contar com a Europa. São muitos - mais de 500 mil que já cruzaram as fronteiras e podem juntar-se mais 3,5 milhões, segundo as Nações Unidas. Serão recebidos de braços abertos..A prontidão com que vários governos se dispuseram a acolher refugiados deve ser assinalada. Portugal, uma vez mais, esteve entre os primeiros. É algo de que nos devemos orgulhar, não apenas agora, mas pela abordagem solidária e humana que o nosso país sempre tem tido nesta matéria..Surpreendeu a resposta de países como a Hungria ou a Polónia, onde os governos de direita inverteram a narrativa dos últimos anos. Agora estão disponíveis a acolher refugiados. Ainda bem que assim é, o povo ucraniano precisa e merece o nosso apoio inequívoco..Mas, por tudo isto, custa ainda mais lembrar a postura destes países durante a crise de refugiados decorrente do conflito na Síria. As bombas em Damasco e as bombas em Kiev não merecem um olhar diferente, nem a nossa solidariedade deve depender da origem de quem procura ajuda..A União Europeia, que nos últimos dias mostrou ser capaz de quebrar barreiras históricas, tem de traduzir esta alteração de postura numa mudança estrutural no acolhimento de refugiados. O sistema de Dublin, ao atribuir ao Estado membro de entrada a responsabilidade pelos refugiados, deixa uma pressão desproporcionada sobre os países nas fronteiras externas da UE. Essa responsabilidade tem de passar a ser partilhada, distribuindo os refugiados entre os 27. Espero que a Europa dê esse passo e fique definitivamente a anos-luz da indiferença do passado recente..2 VALORES Partido Comunista Português A reação à intervenção militar da Rússia devia ser um momento para condenação unânime por todos os partidos europeus. Felizmente não há muitas exceções, mas entre elas está o PCP, cujos eurodeputados votaram contra a resolução do Parlamento Europeu de condenar a invasão. Será que há quem não tenha percebido que a União Soviética já acabou?. Eurodeputado