Na última edição do semanário Expresso o economista Ricardo Reis escrevia: “Os rendimentos do século XXI são cada vez mais difíceis de taxar. Quer o capital, quer o trabalho são móveis e atravessam fronteiras para fugir aos impostos. O capital está cada vez mais digital e intangível, enquanto o trabalho à distância e a imigração dos mais qualificados são cada vez mais fáceis.” É certo que o texto escrito por aquele prestigiado economista se debruça essencialmente sobre questões fiscais. Porém, subjacente à afirmação que citamos aqui há uma questão essencial do nosso tempo a que teimamos em ser incapazes de dar resposta. O mundo, a sociedade e toda a realidade que nos rodeia mudou muito mais depressa do que a nossa capacidade de a compreender e de, consequentemente, conceptualizarmos respostas para estes novos desafios. Evidentemente que quando a financeirização da economia domina os mercados; quando múltiplas empresas valem mais nos mercados bolsistas do que o PIB de muitos países; quando, num pequeno país como Portugal, temos, em 2025, 1,7 milhões de trabalhadores estrangeiros inscritos na segurança social (não, não estamos a falar de clandestinos); ou, quando o nosso estado social vive das contribuições que em cada momento são efectuados e caminha para uma sociedade de idosos, por definição não contribuintes, é evidente que as velhas receitas de aumentar e descer taxas fiscais não são o caminho porque simplesmente não teremos quem as pague. O Papa Francisco disse, e não me canso de o citar, que vivemos uma “mudança de época”. O desafio é encontrar novos modelos e novas e inovadoras respostas para esta nova época. Infelizmente, neste deserto de filósofos e de pensadores em que vivemos, não consigo estar optimista. Ser comentador não basta. O que se exige é profundidade, não o surfar da espuma dos dias. Sinto que as novas realidades que vão surgindo se vão sobrepondo às antigas sem que tenhamos conseguido encontrar respostas para os problemas antigos, caso típico dos níveis de pobreza e dos 20% de pobres (pelo menos) que envergonham a nossa comunidade, nem encontrar caminhos para os problemas de hoje; problemas de que são exemplo a competição, sem regras, entre economias liberais e economias controlados pelos estados, ou, entre países em que se pagam impostos e países sem qualquer tributação. Corremos o risco de deixar a definição das opções de futuro nas mãos da inteligência artificial comandada por um algoritmo desconhecido, sem alma, sem fraternidade e sem saber o que é a dignidade da pessoa humana. A democracia, tal como a conhecemos e queremos preservar, não se compadece com ausência de opções alternativas e, muito menos, sem a afirmação de soluções para os problemas e as angústias de cada um. Novos problemas, novos desafios, novas respostas. No combate de sempre entre a luz e as trevas, entre a liberdade e a ditadura. Advogado e gestor