Há silêncios que pesam mais do que palavras. O bullying, que se observa em escolas, meios de transporte, espaços desportivos e no mundo virtual, não atinge apenas quem é alvo direto da agressão. Também marca profundamente quem presencia e fica ali, imóvel, a assistir.Os chamados espectadores passivos vivem um conflito interno: querem ajudar e denunciar, mas o medo paralisa. Temem represálias e receiam tornar-se eles próprios vítimas e, por isso, calam-se. Ao mesmo tempo, acreditam que alguém poderá fazer alguma coisa, pelo que esta difusão da responsabilidade acaba por ser inibidora da ação.Mas esse silêncio não significa, necessariamente, indiferença – para muitos, é reflexo de uma profunda angústia e de uma luta interior entre a consciência e o instinto de autoproteção.Assistir a uma situação de bullying é como carregar uma ferida invisível. A cada insulto, a cada gesto de violência, o espectador sente a injustiça e, ao mesmo tempo, a impotência. Muitos acabam por levar para casa a culpa de não terem feito mais e de não terem protegido quem precisava. É uma dor silenciosa.É urgente compreender que o bullying não se combate apenas apoiando a vítima ou responsabilizando o agressor. É preciso dar voz e segurança aos que assistem. Criar canais de denúncia protegidos e promover ambientes onde intervir não seja um risco, mas sim um ato de coragem reconhecido.Mas há mais: o combate ao bullying exige estratégia e prevenção. As escolas, como espaços privilegiados de formação humana, não podem limitar-se a reagir quando o problema já está instalado. É necessário um plano estratégico de prevenção e ação, que inclua:. Educação para a empatia e cidadania: programas que ensinem os alunos a reconhecer o valor da diversidade, a respeitar o outro e a desenvolver competências sociais e emocionais.. Formação de professores e funcionários: para que saibam identificar sinais de bullying e tenham ferramentas para intervir de forma segura e eficaz.. Canais de denúncia anónimos e protegidos: que permitam aos alunos reportar situações sem medo de represálias.. Protocolos claros de intervenção: com etapas definidas para apoiar a vítima, responsabilizar o agressor e acompanhar os espectadores, que também sofrem.. Envolvimento das famílias: porque o combate ao bullying não termina nos portões da escola; é preciso criar uma rede de apoio que inclua pais e encarregados de educação.. Promoção de atividades de cooperação: desporto, artes e projetos coletivos que reforcem o espírito de grupo e diminuam a cultura da exclusão.É preciso transformar a angústia em ação coletiva e estruturada para quebrar os ciclos do bullying e criar uma cultura de cuidado e proteção.