Das opções reais
Quer na microeconomia, quer na macroeconomia importa analisar as soluções a adoptar para o futuro com base nas opções reais, isto é, considerando “cenários alternativos” e, associados a cada um dos hipotéticos “cenários”, graus diferenciados de probabilidades.
Só assim se afigura possível prever com um mínimo de rigor, o que implica, também, entrar-se em linha de conta com variáveis exógenas, procurando-se, simultaneamente, acautelar o futuro recorrendo-se, em muitos casos, a “almofadas” ou a “mecanismos alternativos” que permitam solucionar ou, pelo menos, atenuar os problemas decorrentes da eventual emergência de “cenários” negativos.
Vem tudo isto a propósito das previsões que têm vindo a ser elaboradas para a economia nacional e, bem assim, dos comentários que têm vindo a ser produzidos sobre a política orçamental a implementar em 2025.
Manda a verdade reconhecer que, de um modo geral, as previsões até ao presente realizadas para a economia nacional apontam para um crescimento tímido do PIB - Produto Interno Bruto para os próximos anos, quiçá com a possibilidade de se atingirem taxas ligeiramente superiores às que ocorrerão para a média das economias europeias.
Tudo isto no pressuposto de um não-agravamento da situação económica na Europa e de uma não-intensificação da guerra na Ucrânia, o que se afigura, naturalmente, discutível.
Em qualquer caso, dois “cenários” alternativos prováveis são possíveis para a Europa: ou, por insistência de Trump, um “cenário” de conciliação e até de “rendição Ocidental mitigada” à Rússia que passe pela celebração de um Armistício, com suspensão do conflito militar, ou, por oposição corajosa da UE à posição submissa de Trump, a manutenção do conflito ucraniano, com sua intensificação.
Quer no primeiro caso, quer no segundo, a Europa terá de reformular a sua política de Defesa.
No primeiro, porque o Armistício corresponde, na prática, ao adiamento do conflito, pelo que a Europa terá de aumentar o peso dos gastos com a Defesa, no PIB, para 2%, num primeiro momento, para todos os países europeus que pertençam à NATO e, mais tarde, em 2026/ 2027 e anos subsequentes, para, pelo menos, 3%.
No segundo, porque sem Armistício o esforço financeiro da Europa terá de ser bem maior, não se apresentando, para já, possível fazer uma estimativa dos gastos que virão a estar envolvidos no esforço de guerra.
Em qualquer caso, não será fácil aplicar políticas orçamentais despesistas que se apresentem facilmente conciliáveis com o incremento das despesas com a segurança a implementar.
É claro que as políticas a concretizar na área da segurança poderão ter um impacto, também, expansionista na indústria de Defesa e, por conseguinte, no próprio PIB, mas tal não significa que existirão, necessariamente, as disponibilidades desejáveis para a Saúde, a Educação ou a Segurança Social (na eventualidade de a mesma deixar de apresentar a situação de auto-suficiência actualmente existente).
Daí que a ideia de se prever um excedente orçamental se apresente positiva, se adoptarmos uma perspectiva que contemple as opções reais.
É que, na situação com a qual nos tendemos a confrontar, a despesa pública terá, muito provavelmente, de aumentar significativamente e, ou apresentamos excedentes orçamentais que poderão ser canalizados para o sector da defesa, ou então teremos de recorrer a défices substanciais no futuro.
Estranhamente, não tenho ouvido falar neste assunto a ninguém.
Dir-se-á que o conflito ucraniano não existe ou que está para breve - qual “varinha mágica” - a sua resolução.
Desenganem-se os que pensam que a solução poderá estar no Armistício. Se tal ocorrer, tratar-se-á, apenas, de adiar o inevitável. Com maiores danos para todos no futuro.
Nem mais, nem menos…
Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico