Das economias em transição

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Já tive a oportunidade de referir a relevância de uma política orientada para a estabilidade cambial como factor de desenvolvimento para uma economia em transição.

Numa economia em transição apresenta-se fundamental o rompimento com o “círculo vicioso da pobreza” e tal passa pelo recurso ao IDE-Investimento Directo Estrangeiro, sendo certo que a componente psicológica tem uma forte influência no sobredito investimento estrangeiro e sendo, ainda, evidente que a estabilidade cambial impacta positivamente na supra-mencionada componente psicológica.

A estabilidade cambial produz efeitos positivos na componente psicológica do investimento, a qual influencia o investimento alógeno, podendo contribuir para o rompimento do “círculo vicioso da pobreza”.

Mas, também é verdade que a aposta na estabilidade cambial condiciona uma economia na implementação de uma política monetária com alguma autonomia estratégica.

Todavia, existe uma metodologia que permite conciliar a estabilidade cambial (com base num “peg” a uma moeda forte como o euro, como acontece, por exemplo, no caso de Cabo Verde) com alguma autonomia em matéria de política monetária.

Se o Banco Central de uma economia em transição pretender concretizar uma política expansionista (mantendo o desiderato de uma política cambial estável), as taxas de cedência e de absorção de liquidez praticadas pelo Banco Central deverão baixar, podendo colocar as taxas de juro domésticas mais baixas do que as taxas de juro dos principais parceiros, conduzindo a uma saída de capitais, com efeitos indutores negativos em termos de desvalorização da moeda.

Uma vez que a economia em causa aposta na estabilidade cambial, tal poderá levar o Banco Central a comprar moeda, reduzindo a oferta de moeda e, portanto, colidindo com os objectivos de concretização de uma política expansionista.

Mas, tal não acontecerá se, simultaneamente, ocorrer o que designamos de “intervenção esterilizadora”, com a aquisição pelo Banco Central de títulos no mercado de capitais, o que conduziria a uma injecção de liquidez no mercado.

E, em caso contrário, se se pretender pôr em prática uma política contraccionista, com as taxas de juro domésticas a aumentarem e com pressões para a apreciação da moeda, poder-se-ia enveredar por uma “intervenção esterilizadora”, através da venda de títulos por parte do Banco Central, “enxugando o mercado”.

Num caso e no outro, seriam anulados os efeitos “perniciosos” da aposta na estabilidade cambial, em termos de autonomia da política monetária.

No entanto, para que se torne possível recorrer a “intervenções esterilizadoras” é preciso que se disponha de um mercado de capitais com algum dinamismo.

Daí a relevância de um mercado de capitais para uma economia em transição que se pretenda de sucesso.

Alguns teóricos não percebem a razão de ser de um mercado de capitais com alguma dinâmica numa economia em transição.

Pois, aqui está a resposta: se pretendermos que essa economia tenha sucesso na sua política cambial, influenciando positivamente o IDE e, portanto, a alavancagem do investimento alógeno do país, com rompimento do “círculo vicioso da pobreza”, então, nesse caso, é relevante que a mesma disponha de um mercado de capitais dinâmico.

Nem mais, nem menos…

Economista e professor universitário

Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico

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