Há uns dias, no anúncio da sua recandidatura, o Presidente Carlos Moedas (re)anunciava a criação de um plano de ação para a segurança da cidade de Lisboa, demandando, entre várias coisas, mais Polícias, mais proximidade, mais visibilidade, mais capacidade de resposta ao flagelo securitário. Os planos de segurança propostos por autarcas como Carlos Moedas esbarram numa realidade incontornável: não há agentes suficientes. E os que ainda resistem enfrentam condições cada vez mais difíceis. E nem mesmo que a seguir venha o Presidente da Câmara do Porto, o da Câmara de Faro, e tantos outros autarcas que “teimosamente” insistem em pedir mais Polícias para as suas cidades e regiões autónomas (lembrem-se as recentes notícias dos Açores), os Polícias continuam a não existir já que eles, contrariamente a outras profissões, não se vão recrutar ao mercado de trabalho pois são formados pelo Estado e respetivas Forças de Segurança. Como se não bastasse, é preciso que eles concorram, e para isso é preciso que estas novas gerações queiram concorrer a elas já que o recrutamento por decreto, até ver, não nos parece ser solução. E pelo que parece, nos últimos anos, depois de tantas notícias, alertas, apelos e remoques requintados, as Forças de Segurança, e em particular a PSP, perderam o magnetismo vinculante e identitário que outrora gerava abundância no acesso às suas fileiras. Hoje já não é assim, veja-se o recente concurso que deixou mais de 167 vagas por preencher (das 800 abertas), não sendo, infelizmente, caso único. Mas não fiquemos por aqui, com a recém (re)criada Unidade Nacional de Fronteiras e Estrangeiros na PSP, concentrado arrimadamente (quase) todas as competências policiais relacionadas com este vetor da segurança interna (continuando a deixar de fora a competência de investigação criminal contra o arquétipo que todos os países da EU segue), a PSP terá que fazer mais um esforço, ou antes um milagre, para ir buscar Polícias onde eles já são poucos, para responder a uma exigência que se torna, dia após dia, mais difícil, com novos máximos de passageiros a chegar a Portugal todos os dias, em infraestruturas caducas e pressões bacocas que em nada ajudam o controlo de fronteiras e o [novo] trabalho da PSP. Perante a impossibilidade de soluções impossíveis, nem de curto nem de médio prazo, já que os Polícias não detêm uma auto capacidade mitótica para se desmultiplicar de um dia para o outro, resta-nos enfrentar uma já diáfana evidência, é que o Policiamento ordinário será, naturalmente afetado, comprometendo todo e qualquer plano de ação pejado de boas intenções. Só não será assim se, de uma vez por todas, tivermos a capacidade e coragem de fazer o que já devia ter sido feito, ou pelo menos posto em marcha, promover-se ao fecho de esquadras e serviços que sejam redundantes na organização, promovendo a sua fusão, a sua centralização e a sua “externalização” sempre que for possível. Só assim conseguiremos libertar Polícias, só assim teremos Polícias para corresponder aos anseios, não só dos autarcas, mas sobretudo da população. Mas o cenário poderá ainda ser mais desafiante quando nos próximos anos se avizinham saídas, de pleno direito, para a pré-aposentação, por limite de idade (60 anos), na ordem das muitas centenas, centenas que dificilmente serão acobertadas com o número de entradas que, como vimos, tende a ser reduzido. É, pois, errático e nada vanguardista, que queiramos obstinadamente insistir nas mesmas soluções de sempre, soluções ultrapassadas que não alterarão nada, e que dificilmente inverterão a quebra de atratividade e embevecimento que outrora granjeava tantos jovens por esse país fora, de todos os seus cantos, das mais diversas origens. O sacrifício começa a ser insuportável e difícil de gerir por parte dos fantásticos Polícias que ainda se mantém ferreamente vinculados à causa pública, mas infelizmente, pois importa [pelo menos] não esquecer, que para alguns esse sacrifício torna-se insuportável, optando por uma porta sem retorno. Temos de mudar a abordagem, temos de responder rápido. A segurança depende dos Polícias, e eles merecem mais do que promessas eleitorais: merecem respeito, condições dignas e uma visão clara para o futuro das forças de segurança. Subintendente na Polícia de Segurança Pública