Em boa verdade, a política de cooperação portuguesa só passou a existir a seguir ao 25 de Abril e com o processo de independentização das nossas ex-colónias.E não foi logo a seguir.Foi criado um Gabinete Coordenador para a Cooperação em finais de Outubro de 1974, mas que visava, tão somente, “salvaguardar a permanência dos portugueses nos territórios descolonizados”, concretizar “negociações com os novos Estados” e criar “condições de acolhimento dos bolseiros”, cidadãos dos novos Estados.Mas, chamar a isto uma política de cooperação não faz qualquer sentido.A primeira “esquina” da política de cooperação em Portugal surgiu em 1979, com a criação da Direcção-Geral da Cooperação no Ministério dos Negócios Estrangeiros e bem assim com a aprovação da Lei Orgânica do Instituto para a Cooperação Económica. A criação da CIC - Comissão Interministerial para a Cooperação e da CCC - Comissão Consultiva para a Cooperação completou o primeiro edifício do Sistema de Cooperação Português, ainda que de uma forma algo débil.A segunda “esquina” da política de cooperação viria a localizar-se no tempo entre 1991 e 1994, com a nossa readesão ao CAD - Comité de Auxílio ao Desenvolvimento (no quadro da OCDE), com a criação do Fundo para a Cooperação Económica, bem como do ICP - Instituto da Cooperação Económica, que substituiu a Direcção-Geral da Cooperação, ICP esse dotado de autonomia financeira.A terceira “esquina”, ocorrida entre 1997 e 1979, terá, porventura, sido particularmente relevante. Em primeiro lugar, porque passou a haver um Programa Integrado de Cooperação aprovado em Conselho de Ministros para a Cooperação. Em segundo lugar, porque se passou a fazer uso da abordagem CDF - “Comprehensive Development Framework” (abordagem integrada e integradora do desenvolvimento).Passaram a existir os PIC’s e os PAC’s (isto é, os Programas integrados de Cooperação trienais e os Programas ou Planos Anuais de Cooperação), sendo, ainda, criada a APAD - Agência Portuguesa de Apoio ao Desenvolvimento, transitando a cooperação financeira da Direcção-Geral do Tesouro para a DGAERI - Direcção-Geral dos Assuntos Europeus e Relações Internacionais. Tratou-se de um período interessante da nossa política de cooperação.A quarta “esquina” da política de cooperação ocorreu em 2004, com a fusão do ICP e da APAD no IPAD- Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento. Ganhou-se uma super-estrutura de apoio à cooperação institucional mais forte, mas perdeu-se uma estrutura de apoio à cooperação económica e empresarial. De resto, não ocorreu qualquer evolução de sinal positivo.A quinta “esquina” da nossa política de cooperação teve lugar em 2007, com a transferência da cooperação financeira para o GPEARI - Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais e com a criação da SOFID - Sociedade para o Financiamento do Desenvolvimento, novo banco de desenvolvimento português. A SOFID viria, todavia, a ser constituída com capitais próprios muito limitados, não estando dotada dos meios financeiros indispensáveis à sua conversão num instrumento forte da política de cooperação portuguesa.Em 2012, surgiu uma “mini-esquina” da política de cooperação portuguesa com a fusão do Instituto Camões com o IPAD, criando-se o Camões - Instituto para a Cooperação e a Língua, fusão essa ditada por meros critérios de obtenção de economias de escala num período de austeridade resultante da aplicação do designado “modelo da troika”.A sétima “mini-esquina” teve lugar entre 2016 e 2018 com a passagem da dependência da SOFID para duas tutelas (o Ministério dos Negócios Estrangeiros e o Ministério das Finanças, pretendendo este último liderar a definição das prioridades de gestão), passando, ainda, o MNE a nomear o representante do Governo português no Banco Africano de Desenvolvimento.E daí para cá, continuou a existir o Camões e a SOFID passou a ser entendida como uma entidade a articular com o Banco de Fomento, em moldes a definir, sendo possível a fusão destas duas instituições. Tal significaria que o Camões deveria continuar a lidar com a cooperação institucional, mas tenderia a deixar de existir uma entidade que assumisse, de forma autónoma, a responsabilidade pela cooperação empresarial.Digamos que, ao longo dos anos, o Sistema de Cooperação Português tem vindo a padecer de algumas debilidades como, por exemplo, a ausência de uma unidade de comando, uma certa dispersão da Ajuda Pública ao Desenvolvimento, a necessidade de uma maior descentralização no acompanhamento dos projectos de ajuda e a indispensabilidade de uma instituição financeira forte ligada à cooperação empresarial.Seria, talvez, de repensar o Sistema de Cooperação Português. Em nova oportunidade, voltarei a abordar este tema, procurando explicar qual, no entendimento do autor desta singela prosa, deveria ser o melhor Sistema a adoptar no futuro. Sem pretensões, apenas animado de um espírito construtivo.Nem mais, nem menos…Economista e professor universitário. Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico