Dois anos após o ataque terrorista de 7 de outubro de 2023 – a maior falha securitária de Israel em décadas – o país não só recuperou como redefiniu o tabuleiro estratégico do Médio Oriente. O que para alguns adversários seria o desejado início do declínio transformou-se numa demonstração quase didática dos efeitos de uma avaliação errada e de como se converte humilhação em supremacia.Israel fez da crise uma oportunidade e, para muitos, ensinou que no jogo regional a resposta não precisa de ser apenas proporcional: pode ser transformadora.A operação em Gaza, talvez a mais complexa pelas vicissitudes de teatro operacional, nem sempre clara no propósito e cirúrgica na execução, não deixou de atingir o seu objetivo. O Hamas, que acreditava ter infligido a Israel um trauma comparável ao ataque de 1973, a guerra do Yom Kippur, foi reduzido a uma presença marginal, com comando enfraquecido e infraestruturas militares destruídas.As negociações no Cairo, iniciadas em 2025, abriram caminho para um potencial plano de paz, com propostas de libertação de reféns, enfraquecimento gradual do Hamas e criação de uma autoridade civil tecnocrática para estabilizar Gaza.Apesar das críticas internacionais ao impacto humanitário, este cenário tornou possível imaginar uma Gaza sob administração palestiniana moderada, menos inclinada ao confronto armado.Paralelamente, no Líbano, Israel redefiniu o equilíbrio de forças. O Hezbollah aprendeu que a retórica inflamada não substitui defesa eficaz.O seu enfraquecimento abriu espaço para um Líbano menos dominado pela milícia xiita e mais próximo de recuperar um equilíbrio político interno.Neste contexto, os Acordos de Abraão ganharam novo impulso, reforçando a possibilidade de normalização entre Israel e estados árabes.Embora o Irão não tenha sido derrotado, a sua influência regional foi significativamente abalada. O “Eixo da Resistência” liderado por Teerão perdeu profundidade e alcance.A queda do regime sírio de Bashar al-Assad quebrou o corredor estratégico até ao Mediterrâneo, minando o apoio logístico às milícias e enfraquecendo a influência iraniana.Também no Mar Vermelho, os Houthis sentiram o impacto das operações israelitas, com ataques de precisão que reduziram significativamente a sua capacidade de interdição marítima e enfraqueceram o seu papel como braço armado da influência iraniana na região.O regime iraniano, fanático e resiliente, poderá adaptar-se, mas a sua influência regional foi reduzida por uma ofensiva que desafiou as habituais “linhas vermelhas”.Israel emerge destes dois anos com maior influência militar e diplomática, consolidando o seu papel como um dos principais atores na estabilidade regional.Apesar das tensões no espaço diplomático global e das críticas persistentes, a vantagem é agora inequívoca: a predominância militar abriu uma janela rara para a paz — se acompanhada por esforços diplomáticos sustentáveis.No fundo, Israel provou que, no Médio Oriente, até da maior das falhas se pode extrair uma vitória estratégica.A história mostra que nenhuma força é eterna. Mas, por agora, a vantagem israelita é o facto central da região — e, ironicamente, a melhor oportunidade em décadas para a paz.A predominância militar de Israel abre uma janela para a estabilidade, desde que acompanhada por esforços diplomáticos, como negociações multilaterais e acordos que promovam a cooperação regional, capazes de transformar a força num instrumento de paz duradoura.Analista de Estratégia, Segurança e Defesa