Da elevação
As direções do Benfica e do Sporting, os dois grandes clubes desportivos de Lisboa, prestaram um mau serviço aos emblemas que defendem ao terem, ostensivamente, evitado emitir uma nota de pesar pela morte do maior presidente da história do seu rival portuense, o FC Porto.
É conhecida a posição dos dois clubes sobre Jorge Nuno Pinto da Costa, um homem que se alimentava da polémica e fazia crescer os seus com declarações antagónicas para com os clubes da capital. É conhecida a forma como ambos os emblemas lisboetas consideravam Pinto da Costa um símbolo de anos ou décadas de domínio portista muito associadas a suspeitas de corrupção desportiva, pressões sobre os árbitros, favorecimentos e atropelos. Em todos esses anos de vitórias do FC Porto, Pinto da Costa esteve lá, tal como esteve nas escutas do Apito Dourado e noutros processos. Tal como esteve em alguns dos maiores episódios de conquista do desporto nacional, quando o FC Porto ganhou duas Taças dos Campeões Europeus de clubes, uma Intercontinental, duas Taças UEFA e por aí em diante.
Na data da morte do presidente de clube de futebol mais titulado do mundo, no dia seguinte ou mesmo no seguinte (ainda que já tarde) impunha-se que quem manda no Benfica e no Sporting se recordasse de que a grandeza das instituições nem sempre eleva quem as comanda, mas que a mesquinhez dos dirigentes apoucam sempre as grandes instituições.
Uma simples nota de pesar por um dirigente que esteve 42 anos à frente do FC Porto não significa que estão a dar um aval a tudo quanto Jorge Nuno Pinto da Costa fez ou disse. Trata-se sim de uma instituição desportiva a prestar os respeitos, as condolências, os pêsames a outra instituição, neste caso FC Porto, aos seus sócios, adeptos e simpatizantes num momento de perda.
Com esta atitude de Rui Costa, no Benfica, e Frederico Varandas, no Sporting, chuta-se um pouco para mais longe os ideais mais nobres do desporto, já de si tão alheios aos nossos relvados.
Adversários em campo sim, rivais na disputa pelo êxito desportivo, social e económico, sempre e com toda a certeza, mas nunca inimigos. Nunca inimigos. Isso é para outras guerras.
As coisas fora de campo já estão, muitas vezes, bastante crispadas. Não fazia falta que as pessoas de maior responsabilidade nos clubes de Lisboa ainda as acicatassem ainda mais.
2. As grandes instituições históricas reconhecem-se umas às outras. Por isso mesmo, a direção do Diário de Notícias envia as suas condolências à família de Jorge Nuno Pinto da Costa, bem como ao FC Porto e aos seus adeptos.
Diretor-adjunto do Diário de Notícias