A República da Guiné, também é Guiné-Conacri, para a distinguir da Guiné-Bissau, cozinha um referendo à nova Constituição, para setembro, com os seguintes legumes: Primeiro, enquadrar esta Guiné no grupo dos golpistas sahelianos, Mali, Níger e Burquina, desde setembro de 2021, quando o General Mamady Doumbouya, interrompeu uma década de presidência Alpha Condé; Segundo, o General Doumbouya, garantiu que “a democracia irá florescer, dando mais espaço aos partidos políticos e à sociedade civil”; Terceiro, nada disso se passou, o período de transição foi queimando prazos após prazos, até ao momento actual; Quarto, a estocada final na transformação deste referendo em plebiscito, baseia-se no decreto deste fim-de-semana, que suspende as actividades dos 3 principais partidos da oposição, por período de 90 dias. O partido do ex-PR Condé, União do Povo Guineense, foi suspenso, bem como do ex-PM Cellou Dalein Diallo, União das Forças Democráticas da Guiné, e ainda o Partido para a Renovação e Progresso, cujo nome soa a subversivo! A razão para a suspensão, prende-se na campanha anti-nova constituição que a Junta Militar previa. Mas o que é que a oposição contesta? Primeiro, a aprovação de uma nova Constituição, vem provar que este contínuo período de transição, desde 2021, não foi protetor da democracia, antes pelo contrário; Segundo, o esboço a votação, começa por referir o imperativo da transferência de poderes para os civis, mas é a brincar, segundo a oposição suspensa! Porquê? Porque, apesar dessa primeira referência a uma transição que tarda, a nova Constituição deixa campo aberto para o General do golpe poder concorrer às próximas presidenciais e deitar-se na cama legitima que preparou; Porque propõe mandatos presidenciais de 7 anos, renovável uma vez, na adopção do modelo francês que os franceses já não usam; Porque se repete o erro, ao não se perceber que 14 anos chegam para Doumbouya confirmar a percepção ocidental sobre os africanos, que entenderão democracia, na lógica do Soba, “eleito uma vez, eleito para sempre e não se fala mais nisso, que isto custa dinheiro e dá fezes”! A conclusão é simples, haverá uma entente entre as Juntas no sentido de protelarem no tempo a sua permanência no poder. Os objectivos são os prosaicos de sempre, barriga cheia e plano b com pé-de-meia. Por último, um plano maior, um “wait and see” relativamente à Ucrânia, a Putin e a Trump, que já perceberam, vai ser embutido numa matrioska, onde passará a assinar de cruz e a certeza que, de Conacri a Niamei, quem manda é o Kremlin, que finalmente ganha âncora no desejado Atlântico quente! Politólogo/Arabista Professor do Instituto Piaget de Almada www.maghreb-machrek.pt O Autor escreve de acordo com a antiga ortografia.