O grave acidente no Elevador da Glória demonstrou que, numa situação de crise, o primeiro apoio não é dos profissionais de saúde ou da segurança, mas sim dos que se encontram mais próximos do evento. Por isso, é fundamental capacitar a população para conseguir dar uma melhor resposta imediata, até aos meios chegarem, nomeadamente sabendo proteger-se numa situação de potencial perigo.Por exemplo, talvez todos saibamos o número de emergência médica, mas muitos provavelmente nunca se perguntaram que dados são importantes ou quais os procedimentos a adotar. Numa situação de stress, em que se deparem com a necessidade de pedir ajuda, o telefonema vai ser outra fonte de desconforto.A verdade é que podemos ser chamados a prestar apoio em situações muito mais simples e comuns do que numa tragédia, como a de dia 3 de setembro. Pode ser um colega que recebeu uma má notícia ou uma discussão que escala e alguém se sente mal.Os primeiros socorros são uma resposta imediata de cuidados a alguém que passa por uma situação crítica. Os principais objetivos são evitar o agravamento da situação e aliviar o sofrimento da pessoa até à chegada dos meios de emergência, se necessário. A par dos primeiros socorros físicos, também existem os primeiros socorros psicológicos (PSP). Tal como nos físicos, não precisam de ser prestados por profissionais de saúde, não é uma intervenção clínica e pretendem restabelecer ou proporcionar conforto e funcionamento imediatamente após o evento crítico.A Organização Mundial de Saúde enumera quatro princípios de atuação: preparar, ver, ouvir e criar relação. Começa pela aprendizagem sobre o tema, de como agir para garantir a segurança, promover a calma e criar conexões para satisfazer as necessidades básicas. A Ordem dos Psicólogos Portugueses, o INEM e outras entidades também disponibilizam informação sobre os PSP, destacando o cuidado com as diferenças culturais que devem ser respeitadas. Por outro lado, quem presta os PSP também deve estar atento a si nos dias seguintes, nomeadamente a sinais de stress por ter sido exposto a uma situação atípica.As organizações estão a despertar para estes temas no âmbito da formação. No entanto, o termo ainda é utilizado inadvertidamente para falar sobre outros assuntos que não são PSP. Falar sobre saúde mental no trabalho, stress e burnout não é aprender sobre os PSP. Contudo, esta abertura para começar a capacitar colaboradores para darem uma melhor resposta aos pares é muito positiva.Escolas e empresas são os meios mais fáceis para promover aprendizagens em larga escala. É imprevisível quando vamos precisar de utilizar estes conhecimentos que podem ser úteis para os outros, mas também para nos sabermos proteger. Quando for a prática comum, ganhamos todos: pessoas, organizações e sociedade.