A crise na direita portuguesa é grave. É a crise de lideranças, a falta de programa político, a memória de terem ido além da troika e a demonstração de que essa obsessão prejudicou a economia e a vida dos portugueses. Sim, é tudo isso. Mas é também uma crise de valores. E isso é muito mais grave. E perigoso..A viragem do PSD à direita durante a liderança de Pedro Passos Coelho deixou marcas profundas. Com a sua saída, as correntes mais radicais não se conformaram com o recentrar do PSD inicialmente tentado por Rui Rio e o surgimento de novos partidos foi o desenlace natural. Aliança, Iniciativa Liberal e Chega foram frutos desse processo..Pressionado à direita pelos novos partidos e sem vislumbrar a possibilidade de conquistar o centro - as políticas claramente de direita deixaram uma marca que é difícil fazer desaparecer -, Rui Rio fez a escolha que nenhum democrata deve fazer: subordinar os valores à tática política..Não há forma mais clara de o dizer: o presidente do PSD está a promover a aceitação de uma extrema-direita racista e xenófoba. Está a normalizar o discurso de ódio. Está a transmitir à sociedade que insultar as pessoas por causa da sua cor de pele é admissível. Não é. É crime, como ainda agora foi sentenciado em tribunal..Ao fazer um acordo com o Chega para o governo dos Açores, o PSD abriu a caixa de Pandora. Seguiu-se a explicação de Rui Rio de que se o Chega se moderasse, poderia haver também diálogo de âmbito nacional. Mas o racismo, a xenofobia e a promoção do ódio são geneticamente antidemocráticos. Não há maneira de moderar isso..Podem moderar a linguagem, mas não há forma de moderar o significado do que defendem. Veja-se como o ódio aos emigrantes resultou no governo de Salvini em Itália: mesmo atenuando a linguagem, arranjaram forma de os impedir de desembarcar..A participação de Rui Rio, ontem, no chamado Congresso das Direitas foi o mais recente episódio desta normalização da extrema-direita. Horas antes, André Ventura foi lá explicar como o PSD depende dele para voltar ao poder. Foi várias vezes interrompido por ovações, o que revelou bem a natureza política do conclave. Aliás, ovações não faltaram para outros oradores que se dedicaram a elaborar sobre as virtudes do regime fascista em Portugal..Ao aceitar participar no evento, o que tinha recusado nos dois anos anteriores, Rio cometeu o erro de se colocar no mesmo plano de Ventura. Legitimou assim, uma vez mais, o Chega como parceiro potencial..Mas o Chega não pode ser considerado parceiro dos partidos democráticos. É passar uma perigosa linha vermelha. E não haverá forma de depois voltar atrás..Na Alemanha, que Rui Rio tem como modelo, a herdeira política de Angela Merkel teve de se demitir de líder da CDU por ter permitido um acordo do seu partido com a extrema-direita na escolha do governo da Turíngia. Merkel classificou-o como "imperdoável" e "um mau dia para a democracia"..Sobre a participação do Chega no Congresso das Direitas, David Justino, vice-presidente de Rui Rio, disse: "Só não sei porque não convidam o PNR, já agora!".Quo vadis Rui Rio? Quo vadis PSD?.2 VALORESAlexander Lukashenko A ditadura bielorrussa desviou um avião que voava entre duas capitais europeias para prender um jornalista crítico do regime, que corre o risco de ser condenado à morte. Um verdadeiro ato de terrorismo de Estado..Eurodeputado