Congo – Estado Islâmico, Trump, paz, pão, educação!

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Komanda, no leste da República Democrática do Congo (RDC), passou a ter potencial para nome-de-desgraça, como Borno (Nigéria), Fallujah (Iraque), ou ainda Alcafache! Porquê?

Porque há uma semana, domingo 27, a Igreja de Santa Anuarite, no leste da RDC, foi atacada por um grupo de assassinos, que se suspeita ter infiltrado um grupo armado, meio-moribundo, do Uganda!

Resultado, uma “matança-de-Páscoa”, “dúzias de people” mortos e outros tantos raptados. Todos católicos! Oficialmente o número 43 passou a constar desta estatística, após a contabilização às lojas e casas destruídas nas imediações da igreja. Quem atacou e porquê?

Tudo indica ser opus das Forças Democráticas Aliadas (FDA), um grupo armado formado nos noventas, no Uganda, com o objetivo de destronar o Presidente Yoweri Museveni. Este ataque de Komanda foi reivindicado pelo FDA, no Telegram, pelo que não há dúvidas. Mas como chegaram até aqui, o FDL?

Ora, até que enfim uma boa pergunta! O FDL obedece ao percurso errante das franjas raianas em África, onde fronteira, etnia e religião, assumem as diferenças pelas armas, entre povos que falam a mesma língua, mas em códigos diferentes. Desde 1990 que as “Forças” foram federando pequenos grupos islamistas, isolados pelos “normais”, perante as propostas islâmicas baseadas na Shariat e não na lei dos homens. Isto no Uganda.

Perante as perseguições do exército, a partir de 1995, e a proximidade da fronteira da RDC, mudaram-se para o Kivu Norte e para Ituri. A partir daqui, 1997, a “questão ugandesa” dilui-se nas disputas minerais, políticas e geoestratégicas do leste da RDC e eis um grupo de analfabetos perante as “grandes opções do plano”!

Salto no tempo, em 2019 o FDL jurou fidelidade ao Estado Islâmico e este renomeou o grupo de “Província da África Central”, levando o líder, Musa Baluku a afirmar: “O FDL acabou, agora somos uma Província… do Estado Islâmico”!

O que é que isto tem a ver com Trump?

Tudo, o ataque em Komanda foi no mesmo dia da assinatura da paz entre RDC e Uganda, sob mediação americana, pelo que o sinal está dado. Se há palco que condense interesses islamistas, é o leste da RDC. Primeiro tem riquezas para dividir e roubar, permitindo as desculpas perfeitas ao “taliban mais burguês”. Este ambiente de “vendilhões no Templo”, com Trump enquanto marca-de-água desta batota toda, é o argumento perfeito para o ressurgimento de um Estado Islâmico em força e agora de forma modesta, “em jeito de assim”, formato Província! Por outro lado, creio que até Trump verá aqui nova oportunidade para nova fábula de vitória, a caminho de um anunciado Nobel da Paz!

Politólogo/arabistawww.maghreb-machrek.pt

Escreve de acordo com a antiga ortografia

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