Comércio e segurança na era Trump

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A imposição de políticas protecionistas por parte da Administração Trump, aliada à abrupta interrupção de financiamentos a países como a Ucrânia, coloca desafios significativos à dinâmica das relações comerciais e à estabilidade regional e mesmo mundial. O posicionamento norte-americano tem levado os parceiros comerciais, a maior parte deles, aliados tradicionais, a procurarem alternativas que assegurem, simultaneamente, os seus interesses económicos e o reforço da cooperação em matéria de Defesa.

Paralelamente, a proposta da “Riviera do Médio Oriente”, uma “solução imobiliária” para a Faixa de Gaza, não lembraria ao diabo, e não terá seguramente adeptos no Hamas e nos palestinianos. Tal solução longe de configurar um mecanismo de pacificação e reconstrução da região, desencadeará nova vaga der hostilidades.

Por seu lado, o corte do financiamento à Ucrânia, introduzido sob a forma de suspensão durante 90 dias, evidencia a imperiosa necessidade de repensar as estratégias de apoio da Europa à Ucrânia, salientando a importância de um equilíbrio entre interesses económicos e novos imperativos de segurança.

No atual cenário, uma Europa desarmada constitui presa fácil para qualquer uma das três grandes potências atuais, EUA, China e Rússia. O imperativo da segurança impõe-se nos dias de hoje sobre o económico e o social, e sem que a Europa se arme os outros não serão possíveis.

Já vamos tarde? Sem dúvida, temos de avançar rapidamente. A tudo isto não é alheio o propósito norte-americano de reconfiguração da balança comercial entre os Estados Unidos e a Europa.

Neste contexto, a importação de armamento norte-americano poderá funcionar como um mecanismo de restabelecimento das relações transatlânticas, a par da promoção europeia de uma equiparação tecnológica e operacional em matéria de segurança necessária à contenção da ameaça russa. Na verdade, o restabelecimento das boas relações entre os EUA e a Europa constitui um pilar essencial para a estabilidade global, com a necessária revalidação de compromissos comuns que permitam a construção de soluções reciprocamente aceites, quer no domínio comercial, quer na esfera da segurança.

Em síntese, o futuro do comércio internacional e da paz mundial apresenta-se permeado por desafios que exigem soluções integradas, nas quais a articulação entre o direito, a economia e a segurança se revela indispensável. A convergência entre a superação dos entraves protecionistas, a implementação de iniciativas de reconciliação territorial e o reforço da Defesa europeia, despontam como estratégia necessária para a manutenção da ordem mundial e da segurança na Europa.

Advogado e Sócio fundador da ATMJ - Sociedade de Advogados

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