As eleições autárquicas deste domingo permitem extrair várias conclusões, ainda que à hora de fecho desta edição (00h30 de segunda-feira) ainda não tivéssemos os úmeros finais. Destaco, desde já, cinco conclusões, pela reconfiguração do mapa político e pelas tendências que revelam. A primeira é que o Governo da AD saiu reforçado destas eleições autárquicas, embora não se possa dizer que tenham sido um teste ao Executivo liderado por Luís Montenegro. O PSD, sozinho ou em coligação com o CDS-PP e a Iniciativa Liberal, conquistou o maior número de câmaras a nível nacional, incluindo as cinco maiores do país: Lisboa, Porto, Gaia, Sintra e Cascais. Deverão iuntar-se a estas outras importantes cidades como Braga e Oeiras (onde o PSD apoiou Isaltino). O partido conseguiu recuperar terreno autárquico, sobretudo nos grandes centros urbanos, o que dá fôlego reforçado ao Governo. Já o CDS conseguiu permanecer como a quarta força a nível autárquico, à frente do Chega, o que não é de somenos. A segunda conclusão é que o PS deixou de ser o partido mais votado nas autárquicas, tendo perdido as batalhas cruciais em Lisboa e Porto e visto diminuir o seu peso a nível territorial. Numa altura em que o país parece ter feito uma viragem à direita, a perda de várias câmaras relevantes indica uma dificuldade acrescida de mobilização após a derrota nas últimas legislativas. Em seu abono, José Luís Carneiro tem o facto de ter sido obrigado a ir jogo em circunstâncias difíceis, poucos meses após ter assumido a liderança e com candidatos que foram escolhidos pelo seu antecessor. De certa forma, Carneiro demonstrou que o PS está vivo e é uma força com peso a nível nacional; mas não atingiu vários dos objetivos que fixou, a começar por manter a presidência da Associação Nacional de Municípios e por vencer em Lisboa e Porto.Aterceira é que o Chega foi consagrado como uma força efetiva a nível autárquico, embora não tenha conseguido acabar com o bipartidarismo e não tenha obtido as dezenas de câmaras que, a certa altura, chegaram a ser ambicionadas. Ainda, o partido de André Ventura demonstrou que está a construir estruturas partidárias sólidas a nível local. Conquistou câmaras como Montijo e Albufeira e elegeu em todo o país. Este resultado confirma que o Chega passou a ter expressão no poder local. A quarta é a erosão da CDU, que durante décadas tem sido a terceira força a nível autárquico. A coligação liderada por Paulo Raimundo não conseguiu manter as 19 autarquias que conquistou em 2021, perdendo bastiões como Grândola, mas conseguiu cair menos do que muitos antecipavam.A quinta e última conclusão é o desaparecimento do Bloco de Esquerda como uma força efetiva a nível autárquico. À hora de fecho, o partido de Mariana Mortágua tinha obtido apenas 21 mil votos, contra 87 mil há quatro anos. Este número não inclui os votos que terá recebido em Lisboa, na coligação com o PS, o PAN e o Livre, mas não deixa de revelar uma tendência de queda. A ausência da líder Mariana Mortágua durante a campanha, por estar detida em Israel após participar numa flotilha para Gaza, gerou críticas internas e externas e não será alheia a este resultado.