Charlie Kirk e “a beleza de matar fascistas”

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Como é sabido, as reacções à esquerda e vindas da Esquerda de regozijo com o assassinato de Charlie Kirk, de justificação do assassino e de condenação do assassinado por exibir um “tipo provocador de conservadorismo” não são discurso de ódio. Porquê? Porque não. Porque o dispositivo “discurso de ódio” é uma arma exclusiva da Esquerda e que só a Esquerda pode accionar. Quando o insulto, a discriminação e o incentivo ao ódio e à violência ou a violência propriamente dita partem da Esquerda contra a Direita (sempre extrema), o dispositivo “discurso de ódio” deixa, pura e simplesmente, de funcionar. Aí entra em acção a “licença para odiar”, amplamente distribuída por esse mundo mediático e comentarista a fora.

Afinal, o ideário da Esquerda (que permanece ainda e sempre alheio a todas as trágicas tentativas de o concretizar) é moralmente superior a qualquer credo, o que lhe dá o direito – ou até o dever – de chamar à razão ou de condenar ao silêncio quem, por exemplo, não professe suficientemente a diversidade, quem seja contra os direitos reprodutivos e pela chamada “vida”, quem insista em superstições como Deus, família, nação e dois sexos biológicos, enfim, quem não queira desfilar nas coloridas paradas dos bem pensantes.

Ora Kirk, além de exibir todos estes requisitos “negacionistas”, defendia a liberdade constitucional de usar armas e, pior, exibia pública e despudoradamente capacidade de argumentação e um “tipo provocador de conservadorismo”. O que é que ele queria? Estava a pôr-se a jeito, a dar o corpo às balas de cultores da arte e da “beleza de matar fascistas”, como o jovem Tyler Robinson.

Este discurso, explícito ou implícito, ouviu-se nos media nacionais em profusão. O jovem Tyler assassinou, a frio, um homem que tinha ideias diferentes das suas, sentindo-se justificado como combatente anti-fascista. E o coro dos justificadores e explicadores que por toda a parte se fez sentir deu-lhe razão, culpando a vítima e desculpando o carrasco.

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, falando sobre o assassinato de Kirk e sobre o “justificacionismo” da Esquerda italiana, citou o matemático Piergiogio Odifreddi, que a propósito do assassinato de Charlie Kirk disse: “Disparar contra Martin Luther King e disparar contra um representante do MAGA são duas coisas muito diferentes, Luther King pregava a paz, ao passo que o MAGA e Trump pregam o ódio e a violência”.

Meloni perguntou-lhe então se o princípio da legitimidade de matar se media pelas ideias da vítima e pelo que representava.

Parece que sim. Parece que para Odifreddi e para muitos dos farisaicos protagonistas da cena mediática que vemos, ouvimos e lemos nestes dias – comentadores, jornalistas e até pivots –, o crime político pode justificar-se, não pelos métodos ou instrumentos do sujeito a assassinar, mas pelo conteúdo da sua mensagem.

Gente progressista, gente “desperta”, gente que “quer um mundo melhor,” pode falar à vontade, pode ter um discurso de ódio, de insulto e de assassinato moral; pode até festejar a morte alheia e comprazer-se com “a beleza de matar fascistas” (como numa peça que por cá estreou); gente “fascista” e “populista”, gente conservadora, tradicionalista (gente que quer um mundo pior?), pode ser morta à vontade – sobretudo agora que, com o povo a votar nela se vai tornando mais perigosa.

Uma festa que promete, esta da desumanização do inimigo.

Politólogo e escritor

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

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