Chade, mais umas legislativas. Ontem!
"Mais umas legislativas", no sentido em que o Sahel Ocidental, do Mali ao Chade, foi pródigo em eleições durante 2024. O que é que estes estados (Mali, Burquina, Níger e Chade) têm todos em comum? Grosso modo, Juntas Militares no topo da pirâmide hierárquica, em resultado de putsch(s) militares, que desde agosto de 2020 foram tendo um efeito dominó, a partir do Mali.
O caso do Chade é, de certa forma, uma excepção, embora dentro da regra! Também se trata de um regime militar, mas o jovem Presidente (PR) Idriss Déby Itno, 40 anos, herdou a presidência de seu pai em 2021, em resultado de um possível parricídio! A morte do PR Idriss Déby (pai), a 18 de abril de 2021, na frente de batalha a norte, contra os rebeldes da Frente pela Alternância e Concórdia no Chade, nunca foi cabalmente esclarecida. Entretanto, o filho, militar de carreira e à época, homem das informações e comandante de esquadrões de blindados, cavalgou daqui para Presidente do Conselho Militar, perante a “vacatura do trono”, ocupando o mesmo, o qual asseguraria a transição até nova Constituição, por um período de 18 meses. A 6 de maio último, o jovem PR Déby Itno venceu as eleições presidenciais, terminando assim oficialmente o período de transição, com tempo extra! A realização das legislativas de ontem é mais um passo no sentido da normalização.
O pleito em si não tem interesse, a oposição, chamada Transformers Party, continua a apelar ao boicote, o que reforçará o estabelecimento e o sentimento da população é de indiferença, não esperando qualquer mudança e o custo de vida é a conversa recorrente da rua.
Os desafios são os do costume, aumento dos ataques do Boko Haram na região do Lago Chade, conjugado com o fim da cooperação militar chadiana com os franceses! Perante este cenário, é normal que a população inscrita se sinta menos mal em delegar tais responsabilidades aos militares, que sempre geriram tudo!
O nome não engana, Movimento Patriótico de Salvação, “partido-militar” que não encontrará Transformers à altura de impedir o marco importante que estas eleições têm, na consolidação da transição. É essa a preocupação interna, cuja necessidade é fazer passar para fora a imagem da normalidade e do compromisso! Democracia? Ainda não, antes multipartidarismo, enquanto não se garante independência de poderes!
E parabéns, DN, pelos 160 anos e por continuar a ter espaço para estes “povos sem história para os portugueses”. O que não vende, na realidade! Votos de um Ano criativo neste equilíbrio do antagónico. Que lhes dê-mos voz, em português também é bom!