Chade - Legislativas/Dezembro, intentona/Janeiro! Boko Haram ou FACT?

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Os factos ocorridos na quarta-feira passada, a partir das 20.00 horas em N’Djamena, capital do Chade, remetem as autoridades para três origens possíveis do ataque ao Palácio Presidencial. Um ataque do Boko Haram em retaliação à Operação Haskanite, pessoalmente lançada pelo presidente (PR) Deby Itno e cujo objectivo foi vingar os mais de 40 militares chadianos mortos numa acção do grupo terrorista a 28 de Outubro, na bacia do Lago Chade. Ou, um ataque da Frente para a Mudança e Concórdia no Chade (FACT, no acrónimo francês), mais-que-prováveis bodes-expiatórios na morte do PR Mahamat Debi (pai), os quais insistem que “o Chade não é uma monarquia, não podendo a Presidência ser hereditária”!

Um último cenário do absurdo, é colocar-se a possibilidade de se tratar de uma “intentona bêbeda”, fruto de uma “aposta de caserna” e que deu alegremente em 19 mortos. Ou seja, um “inside job”!

Os factos

Um grupo de 24 homens, “pesadamente armados”, irromperam pelo perímetro do Palácio Presidencial, num ataque inopinado, vindo do nada. O dispositivo de segurança do palácio foi eficaz face ao ataque-surpresa, resultando em 18 insurgentes mortos, mais um membro das forças de segurança.

O MNE e também porta-voz do governo, Abderaman Koulamallah, que tinha estado nessa tarde no ministério com o PR e o MNE chinês, Wang Yi, em visita ao país, disse à imprensa que “estes homens estavam armados com catanas e não com armas-de-fogo”!

Há seis detidos com ligação a este ataque, essenciais para o esclarecimento de um dos três cenários já aventados, ou outro.

O Chade em janeiro de 2025

O Chade não faz parte da CEDEAO, mas tem seguido, desde a transição de pai para filho, em 2021, a “bitola Assimi Goita”, que a partir do Mali tem pautado o movimento anti-França no Sahel Ocidental. Em resultado disso, em novembro passado, foi sem surpresa, apesar das exclamações de fim de ciclo, que o PR ameaçado na quarta-feira, anunciou o fim do Acordo de Defesa com a França, que vigorava desde 1976.

Não é de estranhar, portanto, a presença do MNE chinês na segunda semana do ano, em N’Djamena, bem como não será de estranhar o vazio de informações que esta ruptura, de acordo com França, já provocou e continuará a provocar.

O Boko Haram, originário do norte da Nigéria, depara-se actualmente com um problema de bloqueio, por parte do governo/Exército nigeriano, do fluxo de combustível de sul para norte, a forma mais inteligente de limitar as acções do grupo às suas “bolsas, onde mantém a panela próxima”.

Perante este cenário, o Chade poderá apresentar-se como a “Galp mais próxima” para os terroristas se abastecerem e garantirem octanas suficientes para continuarem a proselitar da forma selvagem que conhecemos.

Do Senegal ao Chade, é este o “bife do lombo África Ocidental/Sahel”, que cindiu com o ex-colonizador francês, o que conjugado com uma Administração Trump, que há menos de 10 anos definiu estes “países do buraco africano que ninguém sabe onde ficam”, como definiu, não augura nada de bom, para os próprios e para a Europa!

Politólogo/arabista

www.maghreb-machrek.pt

Escreve de acordo com a antiga ortografia

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