Cancro do pâncreas: a importância de um diagnóstico precoce
O cancro do pâncreas é uma das neoplasias mais letais. No entanto, tem frequentemente um diagnóstico tardio e um prognóstico reservado. Em Portugal, a incidência desta doença tem vindo a aumentar, com mais de 1200 novos casos diagnosticados anualmente. Este aumento é particularmente notório em homens entre os 40 e os 50 anos, refletindo uma tendência preocupante cada vez mais cedo.
Vários fatores de risco estão associados ao desenvolvimento do cancro do pâncreas. O tabagismo é um dos principais, duplicando o risco de ocorrência da doença. A obesidade e a diabetes mellitus, especialmente quando diagnosticada após os 50 anos, também são consideradas fatores de risco significativos. Além disso, a pancreatite crónica, frequentemente associada ao consumo excessivo de álcool e tabaco, aumenta a probabilidade de desenvolvimento deste tipo de cancro. A predisposição genética não pode ser ignorada: pessoas com histórico familiar de cancro do pâncreas, particularmente em familiares de primeiro grau, apresentam um risco aumentado.
Hoje em dia, o fator mais importante para a cura e sobrevivência é o diagnóstico precoce: um diagnóstico numa fase inicial da doença é fundamental para melhorar as perspetivas de tratamento e sobrevivência. No entanto, os sintomas iniciais são frequentemente inespecíficos, incluindo dor abdominal, perda de peso inexplicável e icterícia (aparecimento de uma tonalidade amarelada dos olhos e pele).
A tomografia computorizada (TAC), a ressonância magnética e a ecoendoscopia são ferramentas essenciais na deteção e estadiamento de lesões pancreáticas. A ecoendoscopia é importante para o diagnóstico precoce de lesões de dimensões muito reduzidas, particularmente útil no grupo de pessoas para potencialmente candidatas a futuros programas de rastreio (estes estão em avaliação em projetos de investigação clínica para um grupo muito restrito tem esta indicação, frequentemente com um forte componente familiar). Este exame permite ainda obter amostras para análise histológica, através da realização de biópsias, para confirmação do diagnóstico.
Num grupo muito selecionado de doentes, a ecoendoscopia permite realizar a destruição de algumas lesões tumorais, através de métodos de crioablação ou radiofrequência. Este procedimento de endoscopia avançada é realizado sob anestesia em hospitais com serviços de Gastrenterologia com unidades de endoscopia digestiva diferenciadas.
A medição de marcadores tumorais no sangue (como o CA 19-9) pode auxiliar no acompanhamento da doença, embora não seja específica para o diagnóstico inicial.
O tratamento do cancro do pâncreas depende do estadio em que a doença é diagnosticada. A cirurgia continua a ser a única opção curativa, sendo indicada para tumores localizados e ressecáveis. No entanto, apenas uma pequena percentagem dos doentes é elegível para cirurgia curativa devido ao diagnóstico tardio.
A quimioterapia e a radioterapia são frequentemente utilizadas como terapias adjuvantes ou paliativas, visando controlar a progressão da doença e aliviar sintomas. Nos últimos anos tem havido uma enorme evolução em novos fármacos e novos esquemas de quimioterapia, com impacto positivo na sobrevivência dos doentes. Mas, apesar dos avanços terapêuticos, o prognóstico permanece reservado, com uma taxa de sobrevivência a cinco anos inferior a 10%.
O conhecimento da população sobre os fatores de risco e a atenção ao aparecimento de sintomas iniciais são cruciais para a deteção precoce do cancro do pâncreas. A adoção de estilos de vida saudáveis, incluindo a cessação tabágica e a manutenção de um peso adequado, pode contribuir para a redução do risco desta doença. A investigação e o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas são essenciais para melhorar o prognóstico e a qualidade de vida dos doentes afetados por esta patologia.