As duas maiores centrais sindicais nacionais uniram-se pela primeira vez em 12 anos, para convocar uma greve geral, em resposta ao pacote laboral que o Governo pretende implementar. Até agora, em cinco décadas de democracia, apenas por três vezes a CGTP e a UGT estiveram unidas na convocação de uma greve geral. A primeira foi em 1988, em pleno cavaquismo. E as outras foram em 2011 e 2013, em plena intervenção da Troika. Este facto demonstra a magnitude e a relevância das alterações que o Governo pretende realizar, não obstante a crença manifestada pelo primeiro-ministro de que, por trás desta greve geral, estarão os interesses do PS e do PCP.As mudanças na lei laboral são pedidas, há muito, por gestores e empresários que se queixam da sua alegada rigidez. E o Governo, mesmo sendo minoritário, está a aproveitar a viragem do país à direita para fazer essas alterações. Em Portugal é muito difícil despedir alguém, sobretudo se tiver um bom advogado. Todos conhecemos exemplos de empresas que não conseguem despedir funcionários que não são - nem querem ser - competentes e produtivos. Porém, o inverso também acontece e são muitos os exemplos de empresas que não valorizam nem respeitam os seus trabalhadores. A mudança da lei laboral tem de ser feita com bom senso e humanidade, sob pena de se agravarem os problemas sociais e de passarmos a ter um país ainda mais desigual e injusto.2. A pré-campanha para as presidenciais de 2026 está a acelerar e o nível parece estar a cair, à medida que entramos em contagem decrescente para os primeiros debates entre candidatos.Luís Marques Mendes tem procurado, desde o início do ano, expor as fragilidades do candidato Gouveia e Melo, a começar pela sua inexperiência política e reduzida tolerância à crítica. Um político experiente acaba por desenvolver uma carapaça que o torna quase imune a certas críticas e ataques. Mas o almirante, que nunca foi político, não tem ainda essa capacidade e o que temos visto nos últimos é a prova disso. Dizer que Marques Mendes não tem “elevação” e faz “pequena política” pode colher alguns sorrisos entre os apoiantes do almirante, mas são comentários desrespeitosos e desnecessários. De igual modo, não se compreende o que pode ganhar o almirante em atacar Cavaco Silva, antigo Presidente da República. Gouveia e Melo acaba, mais uma vez, a dar tiros - ou “coices”- no seu próprio eleitorado. Afinal, Cavaco tem mais em comum com Gouveia e Melo, em termos de perfil e estilo de atuação, do que com Marques Mendes, que será mais próximo do atual inquilino de Belém. Quem tiver saudades do estilo austero e distante de Cavaco, que muitos consideram ser mais dignificadora da magistratura presidencial, poderá rever-se, dez anos depois, na figura do almirante. Há, porém, uma diferença e não é de estilo nem de ideologia, mas sim de experiência política, tal como Cavaco expressou no artigo que levou o almirante o apodá-lo de “protetor” de Marques Mendes.De igual modo, a reação de Gouveia e Melo à notícia da Lusa, sobre os motivos que o levaram a candidatar-se, foi excessiva e demonstrou baixa tolerância à liberdade jornalística. A interpretação que a Lusa fez das suas palavras, no livro da diretora adjunta do DN, Valentina Marcelino, pode ser questionada, mas é legítima. Os jornalistas não são paus de microfone e um Presidente tem de saber conviver com isso. Porém, Gouveia e Melo é um homem inteligente e ainda vai a tempo de corrigir estes tiros até 18 de janeiro.Diretor do Diário de Notícias