Bill Gates diz que a IA vai substituir a maioria dos humanos. Ainda bem!
Ao mesmo tempo que centenas de milhares de internautas se entretiveram a transformar as suas fotos em cartoons ao estilo dos estúdios Ghibli, utilizando a nova popular funcionalidade do ChatGPT - ao ponto de “derreter os chips”, nas palavras do presidente da OpenAI, Sam Altman -, foram também divulgadas interessantes entrevistas de Bill Gates em que este traça algumas bem sérias previsões sobre o futuro da Humanidade com a Inteligência Artificial generativa.
Afirmou o fundador da Microsoft - a Jimmy Fallon, na NBC, e ao podcast de Trevor Noah - que, em dez anos, os seres humanos não serão precisos para “a maioria das coisas”. Isto porque a IA “será gratuita, comum” e, com ela, virá “ótima medicina, ótimo ensino”. O mundo entrará numa fase, prevê o multimilionário e filantropo, de “inteligência gratuita”, cujos serviços serão acessíveis para qualquer pessoa. E quem ainda precisar (ou quiser) trabalhar, prossegue, terá “semanas de trabalho de dois dias”.
Prever o futuro é daquelas atividades que só são possíveis fazer… a posteriori. Mas as probabilidades de Gates estar próximo da verdade são enormes. Neste momento, tal como a revista Forbes escreve esta segunda-feira, já os AI Agents - sistemas capazes de desenvolver tarefas complexas em várias etapas com pouca ou nenhuma intervenção humana - estão a automatizar largas dezenas de atividades, como processar devoluções, rever faturas ou publicar atualizações para trabalhadores de campo. Em breve, farão introdução de dados, responderão a consultas de suporte de rotina ou ficarão responsáveis por procedimentos de segurança. Para quem ganha a vida exclusivamente neste tipo de atividades, é melhor mesmo aprender a trabalhar com estas ferramentas e, no limite, vir a saber programá-las.
Já hoje, os médicos têm valiosos auxiliares de diagnóstico IA à disposição, mas muito em breve serão mesmo dispensáveis, pelo menos numa primeira consulta de “medicina geral”, para avaliação de parâmetros de saúde e encaminhamento para os especialistas; os professores, cada vez mais deverão ter em conta os tutores digitais especializados, que os seus alunos têm nos assistentes digitais, nos telefones ou smartwatches, orientando-os para que eles procurem conhecimento através dessas ferramentas digitais - em diálogo com a IA. Será a quebra definitiva com o paradigma (de séculos) do mestre a debitar conhecimento - e a democratização, via tecnologia, de uma lógica de tutoria one-to-one que, desde a Antiguidade, era reservada apenas à elite.
Claro que será preciso todos sermos capazes de nos transformar. E alguns ficarão pelo caminho - cabe também aos outros serem solidários com estes, para minimizar as suas dificuldades. Mas uma coisa é certa: por mais que isto possa assustar alguns, o mundo está em constante mudança. A única coisa que podemos fazer é aproveitá-la da melhor forma possível.
Editor do Diário de Notícias