Desde o mais recente dia 7, o Benim, com praias no Golfo da Guiné, passou a, “vanguarda do cinturão dos golpes africanos”, com início em janeiro de 2020. Pascal Tigri, Tenente-Coronel, parece ter querido contrariar o hit de Gil Scott-Heron, Revolution will not be televised e ensaiou um “golpe em directo”, ocupando a “RTP do Benim”! O Comité Militar para a Refundação ocupou a televisão nacional às 08h, anunciou a deposição do presidente (PR) Patrice Talon, a suspensão da Constituição, a dissolução das instituições do Estado e o fecho das fronteiras. Às 12h, já não era bem assim, o ministro do Interior, Alassane Seidou, anunciou ter sido “um golpe frustrado”, aparecendo em sequência o PR Talon, enquanto prova de vida e de poder, ao anunciar a detenção dos 14 atrevidos, entre os quais, dois militares. O que é que correu mal? Certamente iludido que bastava entrar de rompante pelas casas e cafés dos beninenses, em jeito de ordem militar, Pascal Tigri, terá pensado, “This revolution will be televised e não se fala mais nisso”! Acontece que o “telefone vermelho da CEDEAO” funcionou e a Nigéria mobilizou Força Aérea e forças terrestres, para acudir a esta “larga língua de terra, do mar ao Burquina e ao Níger”, enquanto vizinhos se posicionaram na fronteira, decididos a não permitir este acesso ao mar, da Aliança dos Estados do Sahel - AES (Mali, Níger e Burquina), dissidentes da CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental). Este é o jogo geopolítico na África Ocidental, CEDEAO versus AES, cujo acesso ao mar abriria horizontes a golpistas, russos e islamistas, que por aí vivem ou investem. Neste quadro, “meio-golpe” significa que não ficará por aqui. Uma força que certamente será em breve confirmada, enquanto patrocinadora do mesmo será a Rússia e os seus Afrika Corps. Porquê? Porque precisam de água! Porque precisam de não depender de terceiros nos abastecimentos a partir dos portos de mar e porque também precisam de diversificar as rotas terrestres do mesmo abastecimento. Há menos de um mês, Bamako, capital do Mali, não tinha gasolina, por via dos ataques/sequestros dos “al-Qaedas de motorizada”! A cisão do Mali com a CEDEAO, em 2020 e subsequente expulsão de diplomatas, militares e outros nacionais franceses, proporcionou sentimentos e festa, de uma segunda independência, o que tem alimentado um desejo crescente nos militares descontentes com as chefias, em romperem com a instituição e alinhamentos regionais/internacionais. Até aos Reis haverá novidades por aqui, que os dados, após serem lançados, não podem dar nulo! Politólogo/Arabista Professor do Instituto Piaget de Almada www.maghreb-machrek.pt O Autor escreve de acordo com a antiga ortografia.