No ano passado, um inquérito citado pela Forbes dava conta de que 88% dos trabalhadores, nos EUA, estavam esgotados. E que embora o desgaste emocional desta situação afete tanto homens quanto mulheres, a expressão do stress é muito diferente entre os géneros. De acordo com a mesma pesquisa, os homens são mais propensos a explosões verbais, como gritos ou ameaças de demissão, enquanto as mulheres podem manifestar o seu stress saindo abruptamente do local de trabalho ou retirando-se das reuniões. Os mesmos dados revelavam ainda que o esgotamento afeta desproporcionalmente a vida pessoal das mulheres em comparação com os homens, com 27% das mulheres inquiridas a relatar um impacto negativo, o que se explica pelos desafios que ainda são exclusivos das mulheres: responsabilidades domésticas desiguais, a disparidade salarial entre géneros (estimado em 11,1% em Portugal, este ano) e as microagressões no local de trabalho.O facto de as ferramentas utilizadas para lidar com os sinais de esgotamento, por homens e mulheres, serem significativamente diferentes, pode ajudar a explicar esta discrepância, segundo os especialistas: os homens tendem a calar o sentimento, procurando soluções mais focadas no problema, ou distrações como atividades físicas ou hobbies. As mulheres geralmente escolhem estratégias mais focadas nas emoções, o que, sem a rede de apoio certa, pode torná-las ainda mais vulneráveis – o que é exacerbado se ocuparem cargos de liderança, onde ainda se espera um comportamento mais “masculino”.Numa altura em que tanto se fala de saúde mental e de equilíbrio entre vida pessoal e profissional, a verdade é que as soluções parecem cada vez mais longínquas. Dados de um inquérito levado a cabo pelo BCE - e divulgado pelo DN na passada sexta-feira – davam conta de que os trabalhadores europeus estavam disponíveis para abdicar de parte do seu salário em troca de dias de trabalho remoto, quando as empresas parecem querer caminhar no sentido contrário, e forçar os regressos a 100% ao escritório – muito influenciadas por líderes como Elon Musk – mesmo que tudo aponte para que a eficiência aumente quando os trabalhadores optam pelo regime híbrido, até porque ganham tempo para tarefas que são relevantes para a vida pessoal. No mesmo sentido, continuamos sem conseguir reduzir o gender pay gap, que impacta violentamente as mulheres. Em Portugal, não há dados recentes sobre o número de trabalhadores que apresentam sinais de esgotamento, mas há dois anos eram mais de metade segundo um estudo da Universidade do Porto. Se estes números continuam sem ser suficientes para nos fazer refletir e atuar sobre o assunto, temo que algo muito mais dramático comece a acontecer, com níveis de burnout tão elevados que levarão a uma disrupção total daquilo que é o mercado de trabalho como o conhecemos.