Até quando aceitaremos a ficção da “superioridade moral” da esquerda?

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Mariana Mortágua e todo o seu Bloco de Esquerda recusam-se a assistir a tomadas de posse de “Governos de direita”, democraticamente eleitos, e essa atitude profundamente anticonstitucional e contra todos os valores de uma sociedade democrática e do Estado de Direito passa com encolher de ombros; o PCP toda a vida defendeu os piores regimes ditatoriais que a História produziu, desde a URSS a Cuba, da China à Coreia do Norte, mas não nunca fazia mal, porque, supostamente, “devíamos-lhes o 25 de Abril” - e apaga, apaga, apaga todo o horror do Verão Quente (que só a esquerda democrática os parou no 25 de Novembro), os comunistas que enviaram os arquivos da PIDE para a KGB, em Moscovo, os mortos da FP-25... E a lista continua, continua... 

(Isto já para não falar em todos os que estavam e sempre estiveram contra a Estado Novo - e muitos foram parar à Guerra do Ultramar, obrigados - e que nada tinham de comunistas. Por que os houve, e há. Mas esses são eternamente ignorados.)

Ao contrário da forma como se vende a si próprio, o comunismo (e de certa forma o seu parente mais pequeno, o socialismo, mas deixemos isso para outra oportunidade) não é um movimento de massas. Nem a “Revolução Russa” de 1917 o foi. É um movimento de intelectuais, criado por gentes pensantes (que ao longo dos tempos teve várias cisões, mas na prática vai mais ou menos dar tudo ao mesmo) que com o argumento de criar “igualdade entre os homens” (no original... agora dizem entre as “pessoas”) e acabar com “a exploração do homem pelo homem” (idem...) visam controlar o poder.

Para tal - e como forma de controlo sobre a população - cria-se um regime político de partido único, controla-se o pensamento através do Ensino e da Cultura uniformizada e pela deificação dos líderes e dos seus ideais (inscritos na pedra, doutrinários, infalíveis), gera-se uma religião secular que substitui os santos, literalmente, pelas múmias dos fundadores do Partido.

Em mais de um século de experiências sociais, da Europa à Ásia, da América Latina a África, não existe um único exemplo de sucesso da aplicação destas doutrinas. Todas, sem exceção, dão em pobreza, fome, miséria, escravatura e morte. Muita morte. E não é por negligência.

Do Holodomor, a fome propositadamente provocada por Estaline na Ucrânia que matou pelo menos 3,5 milhões de pessoas - estou a usar as estimativas mais baixas - e que alguns comunistas portugueses (incluindo um cronista deste jornal) continuam a negar que tenha acontecido; aos 1,5 milhões de pessoas (mais uma vez, por baixo) mortas por Pol-Pot no Camboja, passando pelo número que para sempre será indeterminado (aparentemente é impossível saber) saído da “Revolução Cultural” de Mao na China, mais todas as outras, o comunismo, nas suas diversas variantes, matou ao longo da História (nas estimativas mais baixas) pelo menos 10 milhões de pessoas.

(Um livro intitulado The Black Book of Communism, publicado em 1997, estima este valor em 97 milhões, mas nem vale a pena utilizar este número. Parafraseando Estaline, “a partir de dado número não são pessoas, é estatística”.)

Só em jeito de comparação: o número comummente aceite para o número de mortes pelo regime nazi de Adolf Hitler é de 11 a 12 milhões de pessoas... 

Só que os nazis não têm (felizmente!) a “boa imprensa” que os comunistas continuam a receber - porque populam nas redações, ou são convidados por jornais, rádio ou televisões os ditos “intelectuais” que leram umas coisas giras sobre “igualdade” na juventude e nunca perceberam quão pouco sentido tudo aquilo faz no mundo real. Até porque, na maioria - e até agora não me conseguiram provar o contrário - a economia pós-sec. XIX é algo que simplesmente não compreendem.

Hoje, o PCP congratula-se com a “reeleição” de Nicolás Maduro na Venezuela e toda a gente acha apenas mais uma idiossincrasia daqueles rapazes.

Escrevem que “o conjunto das forças progressistas, democráticas e patriotas venezuelanas que alcançam mais uma importante vitória com esta eleição” e criticam as “manobras de ingerência” que procuram “colocar em causa o processo eleitoral e os seus resultados”, e que remédio temos nós senão encolhermos os ombros numa atitude de “lá estão eles com aquelas coisas”.

De facto, como democratas que somos, (ao contrário deles), não podemos mais do que rirmo-nos na sua cara.

E chorar pelos povos enredados nas teias que os seus camaradas tecem, sem hipótese de fuga. Afinal, um regime que se cria sem qualquer hipótese alternativa - porque se define a si mesmo como o fim da História - não se deixará nunca derrubar pelo voto.

E cá estarão sempre uns patetas na tribuna a aplaudir a desgraça dos outros. Mas, como todos os fundamentalistas religiosos, cheios de certeza da sua justiça!


Editor do Diário de Notícias

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