As relações entre o Brasil e Portugal – e, em sentido mais amplo, com a Europa – ultrapassam os limites da diplomacia tradicional. Elas se enraízam em camadas históricas, culturais e socioeconômicas profundas, que exigem reflexão crítica constante. Mas hoje, mais do que nunca, precisam ser cultivadas com novos instrumentos, novos olhares e novas vozes. As presenças de mais de 500 mil brasileiros em Portugal (1) e de mais de 700 mil portugueses no Brasil (2) – entre ambos os migrantes, milhares de estudantes, professores e profissionais – mostram que essa relação deixou de ser apenas diplomática: tornou-se quotidiana, concreta e viva.Com essas presenças, surgem também desafios. A integração plena nem sempre acontece com facilidade. Em Portugal, muitos brasileiros ainda enfrentam barreiras culturais, institucionais e simbólicas. A vida académica, por exemplo, que deveria ser um dos espaços mais abertos à diversidade, nem sempre valoriza o pluralismo de saberes ou reconhece o português do Brasil como legítimo nos seus ambientes. A mobilidade estudantil, muitas vezes celebrada, ainda é privilégio de poucos. E, em tempos de polarização global, cresce o risco de que a imigração seja tratada como ameaça – quando, na verdade, é potência.Foi com esse espírito crítico e propositivo que o Fórum de Integração Brasil Europa (FIBE) criou, em 2023, o Prémio FIBE (3). A iniciativa nasceu da convicção de que é urgente valorizar pesquisas que revelem as múltiplas dimensões das conexões luso-brasileiras e, mais amplamente, entre o Brasil e a Europa. Mais do que premiar teses e dissertações, trata-se de fomentar uma verdadeira ponte de conhecimento, uma rede de produção de comprometida com o diálogo, a justiça cognitiva e a transformação social.Nesta terceira edição, o prêmio se amplia – tanto em temas como em parcerias. Mantemos com o apoio da Almedina, que desde as primeiras edições reconhece o valor da iniciativa. Somam-se agora as embaixadas do Brasil e de Portugal, em ambos os lados do Atlântico, e a parceria com o Diário de Notícias Brasil, reforçando a importância estratégica da cooperação acadêmica e da circulação do conhecimento. Afinal, é quando a pesquisa circula, inspira debates e alcança a sociedade que ela cumpre plenamente seu papel de contribuir para os rumos coletivos.Uma das novidades deste ano é a ênfase em estudos sobre a imigração brasileira em Portugal. O tema é incontornável. Queremos conhecer, reconhecer e divulgar pesquisas que abordem questões como integração, regularização, empregabilidade, identidade cultural e participação política. Trata-se de um gesto de escuta e de acolhimento. Mais do que isso: de compromisso com uma comunidade que transforma, todos os dias, o tecido social português.Os trabalhos premiados – nas áreas da Administração Pública, Ciência Política, Direito e Economia – serão aqueles que combinarem inovação metodológica e profundidade analítica, sempre com foco em fortalecer os vínculos entre Brasil e Europa. Haverá, ainda, uma distinção especial para estudos que enfrentem os desafios concretos da mobilidade e da imigração.O Prémio FIBE é mais do que uma distinção acadêmica. É a construção de um movimento. Um gesto de aproximação entre universidades, centros de pesquisa, instituições públicas, cidadãos brasileiros e portugueses que acreditam na força do conhecimento para construir pontes. Num mundo em transformação, marcado por desigualdades e por novas formas de exclusão, precisamos reafirmar o papel da ciência como ferramenta de futuro.Sabemos que ainda há desafios importantes a enfrentar. A produção científica, muitas vezes, encontra dificuldades para obter financiamento, visibilidade e prioridade nas agendas institucionais. Persistem desigualdades dentro da própria academia – inclusive, entre os países de língua portuguesa – que limitam o acesso, a mobilidade e o reconhecimento de vozes diversas.É justamente diante desses obstáculos que reafirmamos nossa aposta: valorizar, divulgar e incentivar a produção acadêmica é uma das formas mais poderosas de construir pontes em um mundo em transformação. Acreditamos no potencial da cooperação entre Brasil e Europa para se tornar uma referência global de inovação social, justiça cognitiva e solidariedade internacional.O Prémio FIBE nasce desse compromisso. Ele é mais do que uma premiação: é um gesto de confiança no poder do conhecimento para aproximar realidades, transformar políticas e projetar um futuro comum. É uma semente plantada com esperança – com raízes firmes no presente e os olhos voltados para um amanhã mais justo, informado e compartilhado entre Brasil e Europa.(1) Dados do Itamaraty(2) Números do Portal Diplomático de Portugal(3) Regulamento e inscrição gratuita em https://forumbrasileuropa.org/premio-fibe * Vitalino Canas é presidente do FIBE, doutor em Direito e especialista em Direito Constitucional.*Hadassah Santana é professora e coordenadora do Selo FIBE/Prémio FIBE.*Bernardo Motta é coordenador operacional do Prémio FIBE, economista e doutorando em Políticas Públicas no ISCSP-ULisboa.