Uma das questões que está por decidir na União Europeia é o destino a dar aos muitos biliões de dólares, iates e imóveis de luxo pertencentes aos oligarcas russos que, desde a invasão da Ucrânia, viram os seus bens congelados. E congelados é, justamente, o termo certo, uma vez que este dinheiro e os bens não foram confiscados, pelo que se mantém intacta a propriedade dos mesmos. Todavia em abono da decência deveriam há muito ter sido entregues aos ucranianos pelos custos humanos e materiais que a invasão russa tem causado. Mas, afinal, quem são estes oligarcas e qual o verdadeiro valor dos bens congelados, para os quais a União Europeia não consegue um consenso para uma utilização que possa servir a Ucrânia na sua condição de país agredido e invadido. O valor monetário congelado atinge os cerca de 300 mil milhões de dólares, equivalente a cerca de 250 mil milhões de euros. Os proprietários desta enorme quantia de dinheiro e bens são cerca de 39 oligarcas, todos nas boas graças de Putin. São dirigentes políticos, gerentes de empresas, altos quadros das Forças Armadas russas e, ainda, comandantes do extinto grupo Wagner. Eles constituem a espinha dorsal do capitalismo de Estado russo e o seu dinheiro está quase todo congelado numa instituição belga, a Euroclear, (uma parte está no Luxemburgo) que é especializada na liquidação de valores imobiliários e na compra e venda de títulos e acções em bolsa. A componente central desta enorme fortuna da oligarquia russa está, praticamente, intacta ainda que os belgas já tenham cobrado 1,7 mil milhões de euros em impostos sobre o dinheiro depositado. A favor da causa ucraniana apenas foram usados no ano de 2024, 1,5 mil milhões de euros que foram retirados dos juros. Espera-se que no corrente ano mais dois mil milhões de euros venham a ser entregues a Kiev, sempre subtraídos aos juros gerados. Dos oligarcas russos com dinheiro congelado, alguns têm maior proximidade a Putin, outros são apenas obedientes serventuários dos interesses do Kremlin. É caso do segundo homem mais rico da Rússia, Alexei Mordashov. Mordashov é o presidente do Conselho de Administração e principal accionista da Severstal, a maior empresa de aço e extracção de minério da Rússia. Os proprietários do maior banco privado russo, o Alfa Bank , Mikail Fridman( com uma participação de 32,86% do banco) e German Khan ( com 20,9% das acções do banco) estão, igualmente, com as suas respectiva fortunas congeladas. O congelamento de bens russo atingiu, também, aquele que é considerado o homem mais rico da Rússia, Oleg Deripaska, empresário de negócios de metal, alumínio e energia e cuja fortuna, em Julho de 2025, estava avaliada em 4.1 biliões de dólares. No leque da oligarquia russa está também alguém bastante conhecido dos portugueses e que obteve, sabe-se lá como, a cidadania portuguesa. Abramovich, que nos anos de 2022 e 2023 foi dono do clube de futebol inglês Chelsea. A sua fortuna nasceu dos negócios do petróleo e alumínio , nos anos 80, tendo formado a empresa Sibneft, uma petrolífera russa que foi depois vendida por Abramovich à Gazprom por 13 biliões de dólares e onde surgiu a base de sua enorme fortuna que, actualmente, está estimada em 8.08 biliões de dólares. No universo das fortunas congeladas há também elementos das mais velhas amizades políticas de Putin, do tempo do KGB e da câmara municipal de São Petersburgo. O mais importante de todos é sem dúvida Igor Sechin, que foi chefe de gabinete de Putin quando este exerceu as funções de vice-presidente da Câmara Municipal de São Petersburgo. Putin controlava então a Tambov, a mafia de São Petersburgo que actuava no porto marítimo situado na confluência dos rios Tsna e Studenets. Mais tarde, já como Putin como Presidente, Igor Sechin foi seu chefe de gabinete para as áreas da segurança e energia. Foi, igualmente, vice-primeiro-ministro da Rússia e tem uma fortuna avaliada em 800 milhões de dólares. Ainda no capítulo das mais velhas amizades de Putin está Gennady Timchenko, um entusiasta de hóquei no gelo que Putin tanto aprecia. Timchenko foi o fundador da empresa Volga Group que tem interesses em energia, gás, transportes e logística. Timchenko tem uma fortuna que está estimada, actualmente, em 22 biliões de dólares. Uma outra amizade de Putin e também ligada às questões futebolísticas é Alisher Usmanov que foi accionista importante do clube de futebol inglês, Arsenal. A sua fortuna estimada em 18 biliões de dólares, também ela congelada, surgiu sobretudo da mineração, siderurgia, gás e telecomunicações. Eis, pois, esta gigantesca matrioska russa de muitos biliões de dólares que constitui o coração financeiro da economia russa que começa a dar sinais de desgaste devido à guerra prolongada. Usar todos estes biliões de dólares de dinheiro sujo para compensar a Ucrânia pelos prejuízos sofridos é um acto de coragem. Veremos, pois, se a União Europeia tem força política de dar uma marretada na matrioska monetária russa!