A equivalência das artes visuais com a poesia assenta na Antiguidade Clássica numa afirmação do poeta Simónides, citada por Plutarco, segundo a qual a poesia seria “uma pintura que fala” e a pintura “um poema silencioso”. Horácio, com a sua máxima “uma pintura é um poema” (ut pictura poesis), reforçou para a poesia clássica a limitação mimética que Aristóteles introduzira para as artes em geral.Em Nuno Júdice, o poeta de que aqui nos ocupamos, as artes visuais têm uma importância fundamental, mas as suas écfrases (poemas sobre obras de arte) não procuram a mímese, do mesmo modo que não a procuram os poetas modernos, mas a deriva de uma meditação ou a elaboração de uma conjetura a partir do objeto estético.Tem interesse referir que Nuno Júdice chegou a ter dois blogues destinados a inserir junto às reproduções das obras de arte escolhidas os seus poemas dedicados a essas obras. Um desses blogues era, aliás, reservado a retratos de mulheres.Nuno Júdice tem uma interessante reflexão sobre o assunto, em entrevista dada a Ricardo Marques, em que diz nomeadamente “Quando se escreve nós vemos as palavras, é um pouco como a pintura, onde temos a tela, esse sujar as mãos na tinta. Escrever para mim também é sujar as mãos nas palavras e é esse trabalho que eu também quero que esteja visível no poema”.Mais adiante, na mesma entrevista (reproduzida em Ricardo Marques na sua tese Na Teia do Poema, Lisboa, 2013), parafraseando a citação de Leonardo Da Vinci, “a pintura é uma coisa mental”, ele adianta “Se a pintura é uma coisa mental, a poesia é uma coisa visual”, pois “Na minha poesia eu procuro sempre libertar-me do abstrato, do conceptual, ou então quando os utilizo procuro sempre associá-los a qualquer coisa de visual para não perder o pé na realidade”.Vêm estas considerações a propósito de uma importante exposição que o museu de Portimão organizou, com a colaboração da família do poeta, mostrando a relação de diversos poemas de Nuno Júdice com as obras de arte com que a sua poesia dialoga.Nessa importante exposição, que será inaugurada no próximo dia 20, em Portimão, poderemos encontrar os poemas de Júdice ao lado de obras dos pintores Graça Morais, Manuel Amado, Jorge Martins, Júlio Pomar, Manuela Pimentel, João Alexandrino, Colette Deblé, dos escultores Rui Chafes, Zé Dalmeida e José Aurélio e dos fotógrafos Duarte Belo, Anne Walker, Julie Ganzin e Bernard Cornu. Será ainda exibido o documentário “Eco, Nuno Júdice”, de Rita Féria e Teresa Júdice da Costa.Evocando uma viagem que Nuno Júdice fez na adolescência a Paris e as obras que então o impressionaram, será ainda exibida, graças à colaboração da nossa Missão junto da UNESCO em Paris, um painel de Roberto Matta, em exposição na UNESCO.A exposição termina com uma reprodução do quadro de Nicolas Poussin L’Inspiration du Poète, cedida por gentileza do Museu do Louvre.Simónides e Horácio deverão olhar com benevolência, lá do Empíreo, esta interessante exposição que Portimão consagra ao seu Poeta.Diplomata e escritor