Argélia – Presidenciais 2024, “das hossanas à matraca”!
O título, trata-se de uma adaptação raulesca do original de Akram Belkaid, Algérie, les louanges et la matraque, publicado no blog do Le Monde Diplomatique, em Setembro de 2020. O contexto das hossanas é Dezembro de 2019, após 11 meses de contestação nas ruas contra um potencial quinto mandato do então Presidente (PR) Bouteflika, cuja liderança (da contestação) difusa e espontânea lá se organiza e se autodenomina por “Hirak”, “Movimento”, assim mesmo, lato e cónico como um furacão a afunilar do topo para a base, pronto para o reviralho! Foi o Hirak que deu a presidência ao actual PR/Candidato Abdelmajid Tebboune, sob compromisso deste tratar da esperada mudança geracional, que equivaleria a uma desmilitarização do regime/Estado. A 13 de Dezembro do mesmo ano, 24 horas após vitória à primeira volta (58,13%), o novo PR diz o seguinte: “Dirijo-me directamente ao Hirak, que várias vezes já qualifiquei de abençoado, estendendo-lhe a mão para iniciarmos um diálogo sério ao serviço da Argélia e apenas da Argélia”. Resumidamente, aqui temos o “Marcello Caetano argelino” a bater de frente com a instituição militar e rapidamente a passar-se à matraca, a bem de todos, Europa incluída. O Hirak, Movimento inorgânico de Esperança para todos, Europa incluída, desapareceu, criando assim e desde logo, o maior desafio aos três candidatos deste sábado 7, já amanhã. A taxa de participação eleitoral! O Hirak pressupunha ser o viveiro de onde sairiam as bases para a criação de vários partidos políticos, depois de andarem todos à batatada em torno dos programas políticos e dos planos ideológicos e de concordarem em descordar e seguirem caminhos diferentes. Na Europa foi assim, o Magrebe também gostaria que assim fosse, já que muda a geografia, mas não há Homens de um lado e extra-terrestres do outro, as ambições, vontades, desejos, perversões são as mesmas entre humanos. E neste capítulo é seguro afirmar que “não há humanos superiores” e a geografia geralmente o que muda em nós, é a roupa!
Os candidatos.
E assim chegámos ao “1X2” do Totobola, com três candidatos, três, “peneirados” de um total de dezasseis. A saber, o actual PR Tebboune enquanto independente, Abdelaali Hassani Cherif, do Movimento (islamista) da Sociedade para a Paz e Youcef Aouchiche, da Frente das Forças Socialistas. Surpresa será haver uma segunda volta, mas com uma abstenção prevista na casa dos 70% (o normal no Magrebe/África), o verdadeiro taco-a-taco vai ser entre segundo e terceiro, enquanto o “camisola-amarela” corta a meta destacado. Há aliás uma unanimidade na classe política argelina, de que estas eleições são como a pescada para os portugueses, “antes de o ser, já o era!”