Apanhados do clima: “Salvar el Planeta, jodiendo quadros colonialistas”

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O Museu Naval de Madrid foi palco de mais um episódio de “activismo climático”. E em que consiste o activismo climático, levado a cabo por “colectivos anti-capitalistas” que lutam pela “justiça climática” embargada pelo “norte global”? Consiste, evidentemente, em destruir obras de arte despudoradamente expostas nos museus do “norte global”. Quando não se têm os meios de Greta Thunberg mas se dispõe do mesmo vesgo fervor justiceiro e de um par de latas de tintas, é o que se faz.

No passado 12 de Outubro – Dia de La Hispanidad, Dia da Chegada de Colombo à América, ou, somos levados a supor, Dia do Princípio da Injustiça Climática –, o objecto do ataque foi o quadro Primer Homenaje a Colón, de 1892, de José Garnelo y Alda, um pintor valenciano, amigo e contemporâneo de Joaquin Sorolla, que, como professor da Real Academia de Bellas Artes de San Fernando, influenciou Picasso e Dali.

É um quadro de seis metros por três e pesa 150 quilos. Na tela, o navegador está com uma cruz bem alta, rodeado pelos companheiros de viagem; e os índios recebem-no, inclinando-se, presumimos, perante a cruz. De que é que Colombo, José Garnello y Alda e o Museu Naval de Madrid estavam à espera, se não da justa ira do grupo histérico-climático Futuro Vegetal?

Futuro Vegetal é, segundo os próprios, “um colectivo de desobediência civil e acção directa que luta contra a Crise Climática através de um sistema agroalimentar baseado em plantas”. Esta opção vegan é perfeitamente legítima: a tinta encarnada usada era com certeza feita à base de beterraba e frutos vermelhos, orgânica, biológica e cruelty-free…tal como Adolfo Hitler, um dos primeiros vegans e, também ele, promotor de um “futuro vegetal”; facto talvez desconhecido pelas duas activistas, mas que importam os factos? O importante é que, com esta acção decisiva, Victoria Domingo e Luna Lagos estavam, como escreveu Jorge Bustos, colunista de El Mundo, a “Salvar el planeta, jodiendo quadros colonialistas”, num brilhante dois em um.

Acresce que, felizmente para o Planeta e para as causas sortidas de uma cada vez mais dinâmica e flutuante Nova Esquerda, estas intrépidas flotilheiras do Museu Naval de Madrid fazem parte de um movimento mais vasto. Tanto que o inventário dos feitos heróicos contra a injustiça climática e o capitalismo ocidental (conforme museologicamente expressos em ofensivas obras de arte) conta já com a vandalização de quadros de Botticelli, Van Gogh, Monet, Vermeer, Klimt, Picasso e Da Vinci.

Porém, até agora, nenhum dos “grupos de libertação” que reivindicou os ataques (Extinction Rebellion, Just Stop Oil ou Last Generation) tinha apresentado um nome tão expressivo como “Futuro Vegetal” – nem mesmo os nossos “Climáximo”.

O financiamento destes “colectivos”, que seriam só risíveis se não fossem também trágicos, vem de lobbies como o Climate Emergency Fund, que conta entre os seus mecenas Aileen Getty (a neta de J. Paul Getty, multimilionário do petróleo, que terá assim abraçado a missão de expiar os eco-pecados da família).

Entretanto, no rescaldo do ataque em Madrid, e sempre segundo o El Mundo, uma equipa de restauradores, com apoio do Museu do Prado, teve de avançar de emergência para evitar que a tinta secasse, agravando os estragos. Estima-se que o restauro dure, pelo menos, ano e meio. E ainda não é certo que resulte.

Politólogo e escritor

O autor escreve de acordo

com a antiga ortografia

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