Ano letivo termina com alerta: ensino precisa de mudança já
O ano escolar 2024/25 está a terminar e muito já se escreveu sobre o que se passou nas escolas públicas nacionais desde setembro de 2024.
Todos ouvimos, lemos ou presenciámos exemplos das dificuldades que professores, educadores, auxiliares e, principalmente, estudantes enfrentaram nos últimos meses. Houve protestos, greves, falta de profissionais para suprir reformas e baixas, situações que tiveram sempre como resultado a dificuldade de transmitir conhecimento aos alunos dos diversos ciclos. Eles sim, os mais afetados pela grande maioria dos problemas que afetam o setor da Educação.
Mas, deixemos o passado e tentemos focar-nos no futuro. Que, na realidade, começa oficialmente dentro de dois meses.
Um dos maiores problemas — é mesmo o essencial — passa pela falta de professores. Não valendo a pena vir agora apontar o dedo a decisões antigas sobre este tema, a verdade é que a falta de incentivos para cativar jovens estudantes a enveredar por esta profissão está agora a dar um banho de realidade a todos os que tiveram responsabilidades no setor ao longo dos últimos anos.
E um dos resultados está bem claro num estudo do EDULOG (grupo de reflexão para a Educação da Fundação Belmiro de Azevedo) conhecido ontem: mais de metade dos professores têm idade superior a 50 anos. E, acrescento eu, uma parte importante dos docentes também concordam que a forma de ensinar e de estar nas salas de aula tem de mudar e adaptar-se ao novo mundo tecnológico em que os jovens alunos vivem.
Depois há um outro mundo ao qual as escolas, os seus responsáveis e os decisores políticos têm de se habituar: a multiculturalidade.
As escolas públicas portuguesas não são um mundo, são vários. Dados provisórios referentes ao ano letivo que está a terminar mostram que desde o Pré-escolar ao Ensino Secundário estavam inscritos cerca de 170 mil alunos estrangeiros, de mais de uma centena de nacionalidades.
Este é, a par da falta de docentes, um dos grandes desafios a que a escola pública tem de responder nos próximos anos. Tem de saber receber esses alunos — logo a partir dos 3-4 anos no Pré-escolar —, estes têm de se adaptar à cultura nacional e, para isso, também é necessário ter recursos humanos, como os mediadores culturais e linguísticos, a trabalhar com os professores.
Portanto, é necessário investimento em profissionais qualificados, mudar os métodos de ensino — com aposta forte na digitalização — e adaptar toda a realidade escolar às mudanças na sociedade.
São desafios enormes, sobretudo para tentar mudar a imagem dada, por exemplo, no Programa Internacional de Avaliação dos Alunos (PISA), em que se registou uma queda nos resultados a Matemática, leitura e Ciências.
Esperemos que todos os envolvidos estejam a remar para o mesmo lado.
Editor executivo do Diário de Notícias