André Ventura é irresponsável?

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André Ventura, o líder do partido Chega, está a ser gozado por ter criticado a viagem do Presidente da República ao Bürgerst, na Alemanha. Escreveu no X o seguinte: “O Parlamento aprovou a ida do Presidente da República à Alemanha para ir a um festival de hambúrgueres. À conta dos nossos impostos. Acham isto normal? Será que os portugueses não se revoltam?”. Num vídeo no Instagram repetiu a mesma ideia.

Ventura, como já foi explicado, não percebeu que “Bürgerst” nada tem a ver com hambúrgueres e ignorou que o presidente federal da Alemanha convidara oficialmente Marcelo.

E aqui chego ao ponto fulcral: o Chega é o partido da oposição com mais deputados, negoceia com o Governo matérias importantes como o Orçamento do Estado, a legislação laboral, as políticas de imigração, de segurança ou de combate aos incêndios. Mas em inúmeras áreas avança com ideias e propostas que têm por base uma profunda e clara ignorância.

Fui rever alguns erros que Ventura disse nos últimos tempos. Há uns relativamente inócuos, como o de afirmar que o Chega vai ser o primeiro partido em Portugal a formar um governo-sombra, mas há muitos outros que são graves.

André Ventura disse que 80% dos fogos florestais são provocados por fogo posto, quando, na realidade, rondam os 36%.

André Ventura “cavalgou”, sem verificar, um boato que dizia serem falsas – criadas por Inteligência Artificial – umas fotografias da Agência Lusa de imigrantes a combater fogos florestais.

André Ventura disse que apenas 302 mil imigrantes descontam para a Segurança Social, quando são mais de 900 mil.

André Ventura repete que os filhos de imigrantes têm prioridade nas vagas das escolas portuguesas, quando a lei define prioridades de apoio para quem precisa, mas nenhuma é específica para estrangeiros.

André Ventura disse que apenas 14% dos ciganos vivem do seu trabalho. O Instituto Nacional de Estatística diz que são 61,3%.

André Ventura disse que o número de beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI) não baixou, quando, em 2010, abrangia 525 mil pessoas e, agora, é atribuído a 172 mil.

André Ventura disse que há fraude generalizada no RSI com os ciganos, quando o valor médio da prestação mensal deste subsídio ronda os 156 euros e apenas 6% das pessoas que o recebem são ciganas.

André Ventura diz que a legislação laboral tem de mudar por estar desatualizada e ser dos anos 70 e 80, quando ela tem por base o “pacote laboral” de 2003, do Governo AD de Durão Barroso e Bagão Félix, que reuniu numa única lei o que estava disperso e “modernizou”, para o cânone liberal e europeu, antissindical e favorável ao patronato, as leis do trabalho – situação que piorou ainda mais para o lado dos trabalhadores em 2011, com Passos Coelho e Paulo Portas, e que em quase nada melhorou, depois, com António Costa.

Comprovadamente, Ventura trabalha muito a propaganda do Chega, mas não trabalha no Chega para encontrar as melhores soluções para os problemas do país. É irresponsável.

André Ventura, leviano, nem se dá ao trabalho de fazer uma pesquisa no Google para saber se as múltiplas coisas que diz são verdade – nem sequer para traduzir a palavra alemã “Bürgerst”, antes de pôr o seu partido a passar pela vergonha de votar, sozinho, no Parlamento, contra uma suposta visita de Marcelo a um festival de hambúrgueres.

Imagine esta irresponsabilidade toda a governar o nosso país!

Jornalista

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