Nos últimos dias entre as notícias sobre a onda de calor, o flagelo dos incêndios, as declarações do presidente dos Estados Unidos sobre vários temas ou a decisão de um juiz do Supremo Tribunal brasileiro de colocar em prisão domiciliária o antigo presidente da república Jair Bolsonaro, não se deu o mediaticamente merecido destaque a mais uma morte em contexto de violência doméstica. Não se deu e é pena.Ana Rita Dionísio. Este é o nome da mais recente, pelo menos à hora em que escrevo, vítima de violência doméstica em Portugal. De acordo com os dados conhecidos já terão sido 18 as mortes neste contexto, sendo 15 delas mulheres. Recorde-se que no ano passado os números oficiais apontam para a morte de 22 mulheres no contexto deste crime. Outro dado conhecido nesta quarta-feira aponta para um aumento de 48,2% da violência doméstica contra homens adultos. Segundo a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) esta subida de casos registou-se entre 2021 e 2024, tendo esta entidade apoiado 3.671 vítimas, sendo que uma em cada quatro tinha mais de 65 anos e era sujeita a abusos prolongados e invisíveis. Divulgou ainda um perfil do agredido: 25,4% das vítimas têm 65 ou mais anos, 84,9% são de nacionalidade portuguesa.Periodicamente ouvimos os responsáveis políticos anunciarem o combate à violência doméstica como uma prioridade. O procurador-geral da República, Amadeu Guerra, já se referiu a este crime por várias vezes defendendo que uma das medidas que tem de ser passada à prática é a inversão de uma infeliz situação: a de ser a vítima, na maior parte das vezes, a abandonar a casa onde vive e não o agressor. Num seminário que teve lugar no início de junho sobre violência doméstica, frisou que também se deve reforçar a audição das vítimas para memória futura, evitando assim o terem de voltar a contar o seu sofrimento.O Governo, tanto pela voz da ministra da Cultura, Desporto e Juventude Margarida Balseiro, como pela responsável pela Justiça, Rita Alarcão Júdice, também já assegurou que é uma prioridade o combate a este crime e o apoio às vítimas. Ajuda e prevenção que poderá conseguir salvar vidas.A verdade é que muito já se escreveu sobre o tema, inúmeras foram as promessas e a abertura de gabinetes de apoio. Mas, a verdade é que chegamos ao final de cada ano e as estatísticas não baixam. Talvez se deve investir mais na prevenção para tentar evitar que surjam notícias como as que envolveram, só este ano, Alcinda Cruz, Susana Costa, Rodolfo Lança, Iranilcy Oliveira, só para lembrar algumas das 18 vítimas mortais. Editor executivo do Diário de Notícias