Apresente semana está a ser particularmente má no que respeita ao mau tempo. Por todo o país têm acontecido eventos extremos que desalojam pessoas, provocam elevados prejuízos nos bens públicos e privados e condicionam a vida das populações afetadas. Factos semelhantes acontecem todos os anos, com igual ou semelhante gravidade e com semelhante cobertura noticiosa. Este ano, talvez porque um dos locais mais afetados é Lisboa, houve particular atenção e cobertura dos acontecimentos..Mas, mais do que a análise no momento, o que importa reter destas cheias e inundações, ou da seca do verão passado, ou dos incêndios que em todos os verões se tornaram "normais", é que tudo isto se deve às alterações climáticas de que tanto se fala. Há pelo menos 20 anos que o tema é abordado diariamente pelos cientistas, pelos políticos e pelos que se interessam pelo tema. Todos já ouvimos falar sobre o que é necessário e urgente fazer. Os grandes líderes mundiais fazem até cimeiras frequentes para discutir o tema das alterações climáticas, onde seria interessante contabilizar a pegada carbónica das mesmas, porque sobre os resultados destas poucas medidas interessantes têm sido implementadas, ainda que essas poucas contribuam para atrasar a degradação ambiental..Enquanto entendermos que todos temos de ter acesso a tudo em todos os dias do ano, pouco mudaremos. Precisamos de respeitar (mesmo que parcialmente) a sazonalidade das coisas, sem continuar a fazer viajar um sem fim de produtos alimentares (e outros), produzidos em massa, muitos com uma evidente perda de qualidade ou degradação durante a viagem. O transporte é hoje um dos grandes fatores de agressão do planeta e continuamos a usar produtos que são produzidos do outro lado do mundo, porque o preço da mão-de-obra compensa o do transporte e não contabilizamos o do ambiente..E sobre transporte e pegadas carbónicas, podemos também falar de uma faceta do Mundial de Futebol, ainda em curso, que não passa pelo desempenho dentro das quatro linhas. A organização estimou que o Aeroporto Internacional de Hamad teria cerca de 1300 voos diários, num movimento de 8 a 10 mil passageiros hora, durante o mês do Mundial. Quanto deveria custar um ingresso nos jogos se contabilizássemos a degradação ambiental que lhe está associada? Vivemos no mundo dos grandes eventos, onde todos se querem deslocar pelo mundo com total e absoluta liberdade, sem preocupações sobre alterações climáticas. Mas, mais dia, menos dia, elas batem à nossa porta inundando-nos a casa, arrastando-nos o carro ou, simplesmente, impedindo-nos a deslocação para o trabalho..Saibamos que a comunidade científica tem produzido muito saber para reduzir o impacto da economia no ambiente, mas enquanto a meta for crescer não importa como, nada resultará que possa inverter o processo, nem mesmo os chamados impostos com relevância ambiental. Não nos esqueçamos de que existe um número de empresas com mais poder de compra do que muitos estados soberanos... e isso não se consegue com preocupações com terceiros, mesmo que esses sejam os seus netos..Presidente do Instituto Politécnico de Coimbra