Agora não é o tempo
É imperativo começar este artigo por um esclarecimento: Israel não está contra a criação de um Estado palestiniano. Israel está contra a criação de um Estado palestiniano que não seja negociado - entre as partes palestinianas interessadas e com Israel.
Pense-se num qualquer negócio sem discussão de termos, intenções e até sócios. Pense-se num acordo de fachada, para “parecer bem”, sem garantias, sem condições de exequibilidade e sem real envolvimento das partes (o que, neste caso, é toda uma região). É isto que alguns países querem ver acontecer já.
Já se propôs, efetivamente e várias vezes, um Estado palestiniano:
- durante os Acordos de Oslo, em 1993, com Rabin e Arafat, tais intenções ficaram pelo caminho, vítimas dos ataques terroristas palestinianos que bloquearam o processo de paz;
- em 2000, em Camp David, com Barak e Arafat, mediados por Clinton, 98% dos territórios foram oferecidos a Arafat, que rejeitou a proposta e novamente abriu as portas à violência;
- em 2007 foi a Administração Bush que tentou retomar o processo de paz, na Conferência de Annapolis, juntando Olmert e Abu Mazen para pavimentar o regresso às negociações bilaterais, cujos termos foram liminarmente rejeitados pelo ainda líder da Autoridade Palestiniana.
Em que se traduz a liderança palestiniana dos últimos 20 anos? Os “moderados” da Autoridade Palestiniana, por um lado, e uma organização terrorista - Hamas -, por outro.
A Autoridade Palestiniana tem vindo a recusar negociações diretas com Israel fazendo uso das instituições internacionais, num jogo de culpas ao invés de regressar, connosco, à mesa de negociações para irmos encontrando soluções para o que nos tem dividido.
Já o Hamas escolheu única e exclusivamente um caminho de violência, pautado por anos de ataques com rockets e ataques terroristas contra Israel, cujo expoente máximo teve lugar no passado dia 7 de outubro de 2023.
Em 2012 as Nações Unidas votaram a Palestina como Estado não-membro da Organização. Isto ajudou de alguma forma o povo palestiniano? Resolveu o conflito? Propiciou a nossa coexistência? Não, só criou mais ruído e violência.
O que traria então de positivo, neste momento e nestas circunstâncias, o reconhecimento unilateral de um Estado palestiniano por parte dos países Ocidentais? Nada. Mas daria, certamente, um prémio ao terrorismo e aos que têm ignorado paulatinamente a premência de negociações diretas com Israel.
A melhor forma de contribuir para a causa palestiniana é remover os terroristas da sua órbita - depois de libertar os reféns israelitas e restaurar a segurança -; é garantir que têm uma verdadeira liderança (o mesmo é dizer uma liderança realmente preocupada com o seu povo) capaz de viver em coexistência com Israel - sem incitamento ao ódio e à violência -; é fornecer os instrumentos que permitam retomar negociações diretas com Israel e, com elas, um verdadeiro processo de paz. É isto que Israel está a tentar alcançar e é isto que os países Ocidentais devem fazer se não pretenderem mais agressões e distância entre israelitas e palestinianos.
Devo acrescentar outra coisa importante quando falamos de um Estado palestiniano: é curiosa, para não dizer preocupante, a forma como membros da extrema-esquerda em Portugal têm vindo a colar o 25 de Abril à questão palestiniana. O Estado palestiniano do porvir nada tem a ver com valores democráticos, nem com a transição democrática em Portugal, pois não será para uma democracia que os palestinianos irão transitar. Todos os fundamentos democráticos, como sejam os direitos das mulheres, da comunidade LGBTQ+, das minorias, a liberdade de expressão e tantas outras prerrogativas que tomamos como inabaláveis nos Estados de Direito não passam de um lugar estranho para as lideranças palestinianas.
Porém, essa será uma preocupação dos palestinianos. Um Estado palestiniano não é, agora, o objetivo. O objetivo é o fim da guerra depois de cumpridos os seus objetivos e a coexistência entre ambos os povos, israelita e palestiniano. Espero que o mundo democrático não ceda à manipulação de alguns e faça o que de mais correto estiver ao seu alcance para que possamos trabalhar juntos e devolver a paz ao Médio Oriente.