Num momento em que algumas geografias parecem dar sinais de hesitação e até de recuo no desenvolvimento da energia eólica offshore, cancelando projetos e financiamentos, a Europa encontra-se perante uma escolha e uma oportunidade claras.As discussões sobre a reindustrialização do continente e o reforço da sua autonomia estratégica ganham uma nova urgência.A Europa tem a responsabilidade de liderar a transição energética e de materializar o seu portfolilo de projetos de energia renovável, que permitirá a proteção das empresas europeias afetadas pela conjuntura internacional em que nos encontramos. Enquanto alguns países dão um passo atrás na direção dos combustíveis fósseis, a Europa deve dar um passo em frente na direção de um futuro sustentável e economicamente vantajoso para a sua estratégia industrial.Neste cenário, Portugal pode assumir um papel preponderante e precisa de agir de forma rápida e eficaz. O desenvolvimento da indústria eólica offshore, tanto pelo seu potencial para impulsionar a economia nacional, como para alavancar o nosso setor industrial, deve ser considerado como estratégico, e o vasto potencial do nosso país pode traduzir-se na operacionalização de projetos que contribuam efetivamente para quea Europa se afirme como líder global nesta área. Esta indústria emergente pode, de facto, ter um impacto direto e tangível no nosso tecido empresarial. Não só por torná-lo mais dinâmico, através da criação de novas empresas e através do crescimento das existentes, mas também por qualificar a nossa força de trabalho, dando origem a empregos altamente especializados e novas carreiras ligadas às energias marinhas e ao “Mar Português”.No entanto, para que seja possível tirarmos partido de todo o nosso potencial – que vai desde a nossa muito propícia posição geográfica à qualidade dos nossos profissionais e da nossa indústria -, é fundamental que sejam criadas condições favoráveis. Énecessária uma estratégia clara, bem consolidada e de longo prazo, capaz de sobrevivera ciclos políticos e económicos. Só assim garantiremos a estabilidade e previsibilidade necessárias para atrair o investimento global que procura agora portos seguros e com visão de futuro, e só assim promoveremos um crescimento sustentado para o setor industrial e para a economia.As eólicas offshore, em especial a vertente flutuante, prometem trazer oportunidadesúnicas para Portugal. Esta tecnologia, ainda em fase de desenvolvimento e de crescimento, abre portas à entrada de novas empresas na cadeia de fornecimento, e permitirá ao país, caso invista e aproveite este momento, aumentar as suas capacidades de exportação - de produtos, serviços e de conhecimento. Ao fazê-lo, Portugal não estará apenas a servir os seus próprios interesses, mas a construir uma capacidade tecnológica vital para toda a Europa. A indústria nacional demonstrou estar preparada para liderar este setor e ambiciona posicionar Portugal como uma referência nesta área. Os nossos profissionais, que trabalham neste setor um pouco por todo o mundo, estão preparados para regressar e fortalecer o conhecimento nacional e o desenvolvimento científico e académico do país.O momento para agir é agora. É crucial que o diálogo já aberto entre Governo, indústriae os demais intervenientes seja aprofundado, recorrente e profícuo para que, precisamente, possa gerar frutos concretos e nos permita chegar a bom porto. E não tenhamos ilusões: ou percebemos rapidamente o sentido de urgência imposto por este novo contexto global, ou perderemos a oportunidade. É preciso desenvolver um plano estratégico conjunto, com metas ambiciosas, mas realistas, que dê confiança às empresas, que alimente condições propícias a uma indústria sólida. É preciso garantirinfraestruturas capazes de dar resposta aos desafios que se avizinham e o tempo necessário para permitir o desenvolvimento sustentável deste setor. Sinais de que há disponibilidade para tal são essenciais para uma maior previsibilidade e para criar umaconjuntura favorável para aproximar os diferentes intervenientes em prol de um objetivo comum.Portugal tem todas as qualidades para se destacar neste mercado: recursos naturais excecionais, com ventos fortes e uma vastíssima área marítima, com uma plataforma continental que em muito expande o tamanho do país; uma localização geoestratégica privilegiada, como porta de entrada para a Europa, sendo também ponte natural de saída para outros continentes; e uma sólida base de conhecimento técnico e científico, com uma academia dinâmica e uma indústria inovadora. Podemos, e devemos, liderar este setor, não apenas pelo contributo para a neutralidade carbónica, mas sobretudo porque o caminho para a neutralidade carbónica se pode trilhar gerando simultaneamente riqueza para o país, contribuindo para o aumento da nossa a balança de exportações e criando produtos de alto valor acrescentado com qualidade garantida.Podemos, e devemos, afirmar a nossa posição como um pilar da estratégia energética e industrial da Europa.Enquanto outros podem estar a virar as costas aos ventos do futuro, Portugal, no coração de uma Europa determinada, deve abraçá-los com força e reclamar todo o seu potencial eólico. É tempo de transformar este potencial em realidade, construindo um futuro mais próspero em que a sustentabilidade anda de mãos dadas com um crescimento económico sólido, gerando riqueza, emprego e novas oportunidades para os portugueses e para os europeus.