O governo já estava a prever e confirmou-se. A greve geral teve uma expressão imensa e foi uma poderosa afirmação dos trabalhadores portugueses de rejeição do pacote laboral apresentado pelo governo e de reivindicação de mudança de políticas. A atitude do governo é que continua em sentido contrário. O governo em geral, e Luís Montenegro em particular, recusam-se a aceitar a realidade e estão a procurar contorná-la. Em vez de retirar da greve geral as lições que deve retirar, o governo PSD/CDS está a tentar contorná-las de forma a continuar teimosamente a fazer o caminho que tem feito até aqui com o apoio de IL e Chega. Incluindo insistir no pacote laboral que despertou a imensa força de que se fez a greve geral do passado dia 11. Que um governo ou um primeiro-ministro tentem esvaziar as razões de queixa dos trabalhadores para evitar que uma greve geral venha a ter grande expressão, compreende-se. Que o governo e o primeiro-ministro façam “ouvidos de mercador” às reivindicações dos trabalhadores afirmadas numa greve geral de enorme dimensão como a da semana passada é um erro grave com custos pesados. Quando se mobilizaram para a greve geral, os trabalhadores portugueses foram buscar as suas próprias motivações às circunstâncias em que vivem e trabalham todos os dias. Havendo, naturalmente, circunstâncias diferentes em cada local de trabalho, há um denominador comum de desvalorização do trabalho e dos trabalhadores. Ao darem à greve geral a impressionante dimensão que ela atingiu, os trabalhadores portugueses deixaram uma mensagem vigorosa de exigência de melhoria dessas condições de trabalho e de vida. Mantendo-se intransigente na proposta de pacote laboral, o primeiro-ministro Luís Montenegro escolhe desprezar os trabalhadores e aumentar o lume de uma panela que já tem o caldo a ferver. Quando Luís Montenegro se apresentou a eleições pedindo “deixem o Luís trabalhar”, o atual primeiro-ministro queria deixar a ideia de que não o estavam a deixar fazer o trabalho que queria fazer a favor do povo. Essa mensagem contrasta com o que faz agora o mesmo Luís Montenegro. Ao desconsiderar a mensagem que lhe foi deixada com a enorme greve geral do passado dia 11, Luís Montenegro e o governo estão a demonstrar que não é pelos trabalhadores que estão a trabalhar. Se não é pelos trabalhadores, por quem está, afinal, Luís Montenegro a trabalhar? A resposta é óbvia: está a trabalhar por quem beneficia do agravamento da exploração dos trabalhadores. Está a trabalhar pelos grupos económicos e pelos banqueiros que aplaudiram as alterações às leis laborais. Está a trabalhar por quem vê na desproteção dos trabalhadores e na desvalorização dos seus direitos, salários e condições de trabalho a raiz da fortuna e da acumulação de lucros. A greve geral confronta o governo com a obrigação de rever e recuar nas suas intenções de degradação da legislação laboral e confronta também a União Europeia que dá cobertura e suporte a esse tipo de políticas. É a essa política de instabilidade social e económica que tem de se pôr fim. Se o Governo não o faz, terá de assumir a responsabilidade pelas consequências dessa sua opção. EurodeputadoEscreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfico