Após meio século de democracia e de autarcas eleitos para os órgãos municipais e de freguesia, já é possível avaliar onde teremos tido autarcas mais ou menos dinâmicos, mais ou menos ousados, mais ou menos próximos das populações.Numa primeira fase da nossa vida democrática os autarcas não tinham limitações do número de mandatos e, por isso mesmo, tivemos, para o bem e para o mal, muitos que o foram por décadas.Diga-se, em abono da verdade, que genericamente com efeitos positivos nos desenvolvimentos das comunidades que serviram.A legislação mudou e hoje limita o exercício consecutivo do poder máximo a três mandatos.Julgo que daqui decorrem várias consequências: a necessidade de chegar ao poder com uma perspectiva clara das opções de políticas públicas locais que se pretendem concretizar. Uma apurada noção de planeamento temporal da acção política e de cumprimento de prazos para que as realizações se concretizem. A ideia de que aquele lugar não é um fim, é, apenas, mais um em que se servem os cidadãos e a que outros se sucederão.Nas próximas eleições de 12 de Outubro, 89 Presidentes de Câmara vão, por esta razão, deixar de exercer esses cargos. A estes há que adicionar 46 que estariam na mesma situação se não tivessem saído entretanto.Dos 89 presidentes de câmara em fim de mandato, 49 são socialistas, 21 social-democratas, 12 da CDU, três do CDS-PP e quatro independentes.Mas isso é o que menos importa.O que releva é que todos nós, cada um no seu município, e enquanto comunidade nacional, devemos a estes nossos concidadãos uma palavra de agradecimento e de reconhecimento pela sua dedicação ao serviço público.E, neste país que desperdiça tantos recursos, talvez se devesse pensar numa forma de aproveitar as experiências destes nossos concidadãos.Não estou a falar de tenças, nem de prebendas. Estou só a dizer que o desperdício, seja ele qual for, deve ser evitado.Desde logo porque aos que agora vão ser eleitos se vão colocar desafios novos que, nalguns casos, poderão ganhar com a experiência.De imediato as questões, hoje nacionais, da habitação, da sustentabilidade dos territórios e do planeamento da sua ocupação.Mas, também, a actuação como promotores do desenvolvimento e da captação de investimento, nomeadamente investimento directo estrangeiro.Uma apurada consciência dos territórios que se gerem, potenciando um desenvolvimento equilibrado entre os desafios do interior e os das áreas metropolitanas, respondendo-lhes com a diversidade que se impõe, mas sem deixar ninguém para trás, nem permitindo guetos.Tudo isto a par de um compromisso de transparência e de cumprimento dos compromissos eleitorais e que o seu não cumprimento é factor de degradação do regime democrático.Tudo com a atitude clara que a democracia local é uma escola e, como tal, deve ser um irrepreensível modelo para o funcionamento plural de todos os nossos órgãos políticos.Advogado e gestor